::: ::: :::MARIA AZENHA

de encontro à infância

memória I

todos os dia me vou dissolvendo

por vezes

dizem que a noite é um bosque azul

meu coração em chamas

memória de espelhos(XI)

para que conste na cidade

dizem que a noite é um bosque azul

dizem que a noite é um bosque azul
e é lá que se ouve a respiração dos mortos
às vezes os seus nomes gritam tanto tanto
que rebentam poemas para dentro dos poços

então começo a desenhar os seus nomes
nomes que seguram os degraus da solidão
nomes onde as cidades dançam descalças sangram
vertendo o alfabeto numa página em chamas

chove tanto tanto dentro do poema
deus chora nos meus ombros
a dor do universo
(disse-o Panero)


saberás que escrevo agora o que é a dor do homem
com um chapéu de chuva em cada mão