MARIA AZENHA
ergo um peixe triste e uma casa
ergo um peixe triste e uma casa para os amigos
que ardem na melancolia da minha infância e
falamos de espelhos e fogo tantas vezes
trazendo o mar para dentro das nossas bocas

os amigos procuram o calor azul num vidro quente
encerrados em seu próprio corpo de luar e ouro
mergulham durante a noite demoradamente
sob o olhar atento dos espelhos de guelras lilases

são da cor do mar os lábios e as suas vozes de vento
que deus quebrou há muito tempo para criar os deuses

trazemos então para cima do mundo o luar
e a cinza

gritando

lou
ca
men
te

o Nome dos nomes

dizemos

búzios algas sal
casas
ou outros sons de violinos aquáticos

incandescentes pérolas de aves azuis
peixes de neve
nas
frias águas


guardam-nos
os espelhos verdes

maria azenha
2005, fev.12,lisboa