NICOLAU SAIÃO
ONZE DEGRAUS

(“Onze é o verdadeiro número dos degraus alquímicos
a descida e a subida em um só ponto”- Gérard Calandre)

1. Retábulo da alegria

2. Efemeridade

3. Voar

4. Cidade

5. Magnólia

6. Água

7. Resistência

8. Madrugada

9. Granito

10. Sorriso

11. Palavra

11. PALAVRA
São apenas três manchas brancas sobre as plantas do jardim

e outra azul mais pequena mesmo posta ao lado dum banco de tábua

 

E nós pensamos: uma para as saudades, a segunda para os remorsos

a terceira para os que tentam reter a tosse que os sufoca.

Mas a quinta mancha é cinzenta. E apesar de fria como um sobressalto

pesa-nos no peito, pesa-nos na memória e revolve-se

no ventre enquanto tentamos reflectir angustiados.

 

Uma lua e um sol estão sobre a silhueta de um animal morto

hirto, com estranhos círculos no lombo, os olhos cintilando

como alguém escondido numa viela cheia de lixo.

 

A vossa vigília durará até que os ramos se afastem

que o transeunte de acaso de repente caia de joelhos

ante a noite que chega, guardando um grito na garganta

 

e fale mansamente, olhando as árvores que desaparecem na luz.