Despertou-me o ódio a libido.
E que saber pontual entre o afago e a surra?
Meus dentes nos seus cabelos brancos
Minhas lágrimas a escorrerem pelas vias de sua enrugada face
Fascínora do meu Olimpo
Homicida do meu Harém
Te amo descalça ou de bengala,
Na rede, na ressaca
Uma onda no mar se faz vermelha
A Grande Onda Vermelha do mar
O Mar Avermelha numa só onda
A horizontal onda vermelha
Súbito horizonte de vermelha onda
Súbito vermelho de onda horizontal
...se ergue e tomba
Já quase rubra o Espelho Verde
A espuma avermelhando o verde
Já quebra a súbit´onda rubra
Já quebra a vermelh´onda
Um vermelhão de veias na verdura água
O céu assombra
A lua arde
E o sol na noite em êxtases de amor índio
Os mariscos amarulam
Os marujos fugiram todos pr´um deserto
A lua adoça
A vermelhitude verdejante das algas
O vermelhão verdejante sargaços e tubarões
Esmaltes, sinais...
Ceci desmaia pintando a unha
Tomate, vinho, esmalte, sinais...
Na unha de Ceci pintada e desmaiando em carne branca
Sabor de dívidas
Odores da bancarrota
Em débito, em débito Deus e a praia
Todos devem à onda vermelha
Ocaso do Saara
Sua cara mordida em furiosa paixão, neta de índia,
Amada em vísceras de plena compaixão da Ira
O ódio desperta-me a libido
Ao raiar da última onda
Mênstrua...
Sanguinária rosa d´água horizontal que se espraia
Reluz a jóia rubra em víscera oceânica
Dispara a jóia rubra da víscera oceânica
Reluz em raias desta praia às largas...
Vermelhitudes;
Quand´um´ônda no mar se faz vermelha
Quand´um´ônda só rebenta vermelhinha
Estronda vermelhuda
É nesta hora...
Em que ainda se concebe o verde
Quando ainda temos vistas pro verduro
Nossa tez é arrepiada
Eu te amo
E o cosmos todo se engravida
Do nosso amor
Quând´um´ônda no mar se faz vermelha
Quând´ao mar,
violento o nosso amor.
(Mário Montaut)
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