DO CHÃO AO CÉU
(os jardins de fogo)
Risoleta Pinto Pedro

INDEX

Introdução - Os sinais
I A OBRA AO NEGRO
II A OBRA AO BRANCO
III- A OBRA AO RUBRO

III- A OBRA AO RUBRO

Escolho aqui as mãos, essas flores de corpo.

As mãos são ar, aristocratas, distintas, nobres, superiores, cobertas por luvas brancas, misteriosos casulos, e percorridas por um sangue azul de Ganges ou de Tejo futuro, ou de sempre, oculto rio, as mãos re-velam o que não se pode ver: o choro da água, a esperança do mar, a circularidade do rio, a opulência da fonte, a desistência da chuva (porque a chuva é uma água desistente), a expectativa do lago…

As mãos também revelam a potência alquímica das águas do corpo, da seiva das plantas, das urinas de Deus, do vinho da comunhão, do sangue dos santos, da saliva trocada pelos amantes no (e)terno beijo, no terno odor essencial dos perfumes que faço escorrer a partir do pescoço pelo dorso, caramelo líquido confundindo cheiros, jardim na pele em mim.

É a alquimia do amor, dos perdidos de amor no labirinto dos jardins dos corpos.

Na boca sons de sorrisos estalam como foguetes distantes que apenas cintilam e não assustam. E não caem. São foguetes que sustento à flor das mãos que já não tenho, apenas pétalas e asas. A estrutura refaz-se internamente obedecendo ao que fora se passa; vértebras realinham-se e células lambem-se como gatos se limpam. Uma mão sobe, e suspensa, recolhe a invisível água, outras vezes espalha. Olho as mãos. Não há mais nada para onde olhar ou é como se não houvesse. Não havendo mais nada para onde olhar, apenas se pode olhar o todo. O todo, às vezes, são as mãos.

As mãos serpenteiam o corpo e sobem como chama, descem como água, enroscam-se como cobra, escondem-se como ar, vibram como palmas, pousam como pássaro, pulverizam-se como pó, repousam como terra.

No fim, ouviremos uma canção composta por Jorge Salgueiro com poema meu, onde se fala de sonho, cor, jardins, perfumes, pele, mel e licor, anis. E conquista, a mesma que os alquimistas perseguem: a do eu como um todo, pelos caminhos do amor. Curiosamente, na cidade onde tudo começou.

Risoleta Pinto Pedro
2006-06-23

 

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Última Actualização:
30-Jun-2006




 

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