DO CHÃO AO CÉU (os jardins de fogo) Risoleta Pinto Pedro |
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INDEX |
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Introdução - Os sinais |
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II A OBRA AO BRANCO |
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Saliento o jardim que vi na campa de Adelaide Cabete, a mulher que começou por trabalhar na apanha das ameixas e terminou entre o esquadro e o compasso, sepultada como fundadora da primeira e única Obediência maçónica mista em Portugal. Aqui, o jardim que foi esta mulher decompõe-se e transforma-se em… jardim. Mas também os jardins que os corpos constroem com a dança, e dos corpos escolho os pés, as raízes de nós. É junto aos pés que fotografo. Eles elevam, calcam, alternam, percutem, repetem, afastam, recuam e avançam, imobilizam-se. Afastados, separam o passado e futuro, ausentam o presente. São pés de barro. Afundam-se no chão, são pés de plantas. Juntos, ampliam o tempo, reúnem as partes, são pés de deuses. Sustentam o barro, modelam-no quando rodopiam. Por vezes, uma perna eleva um pé como flamingo e assim ficam. São pés de pássaros. O convite à reunião da mão. Separados os dedos, firmados no chão como raízes, se adentram na caverna profunda como em cama de amado, como em ventre de mãe, como em caixão de mortos, como em colo de ninho, como em concha de mão. Olhemos os pés, esses jardins que nos transportam. Para isso necessário se torna baixar o olhar, reunir queixo e peito, apontar ao coração como seta de Sagitário. Apontar sem ferir, que o alvo agora é o pé. Procura o olhar olhar o pé que se furta, porque já roda como rosa, porque já se vira como riacho, porque já se alteia como abelha, porque já salta como pássaro, porque já se afasta como menino, porque já repete como os erros nossos, porque já se eleva como os deuses e se atrasa como nós, e se arrepende, como a figueira de Judas. O estranho pé que do meu se aproxima e ritmado me percorre o sulco e ritmando me imita o salto e sincopado me reduz a queda e igualado me acrescenta o sustento, o estranho pé que não conheço mas reconheço, esse pé que sustenta o mundo, pé tão fundo, sob que jardim se vai ele enraizar? Não olho agora os pés, olho o espelho onde um corpo que não conheço, um rosto que não reconheço, um movimento que nunca fiz, me desafiam. Falo então com os pés e suplico-lhes que não me abandonem, que nunca por nunca partam, que aqui fiquem sempre comigo onde quer que eu ande, onde quer que eu vá, onde quer que eu chegue, onde quer que eu dance, onde quer que eu corra, onde quer que eu desmaie, onde quer que eu morra, onde quer que eu ressuscite, onde quer que eu grite, onde quer que eu me enterre, onde quer que eu cresça, onde quer que eu floresça. |
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Outros espaços da ciência no sítio: |
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Associação de Socorros Mútuos Artística Vimaranense (ASMAV) - Guimarães |
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