A “FLORA PORTUGUESA” DE GONÇALO SAMPAIO,
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INDEX |
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1. Epígrafe ANEXOS IMAGENS DA "FLORA PORTUGUESA" |
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Britiande, Primavera de 2006
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2. Introdução ao problema |
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Pois o problema, Zé Augusto, é de ortografia: um livro académico redigido parcialmente com escrita híbrida, ou latim macarrónico. Tal como o inglês, o latim não usa acentos gráficos. Na “Flora Portuguesa”, de Gonçalo Sampaio, grande número de palavras em latim têm acento. O problema não é isolado. Trata-se de um entre vários mecanismos que constituem o código clandestino que tenho vindo a detectar na literatura da História Natural - e noutros textos, caso da fábula de S. Frei Gil, que o Zé Augusto conhece. Esses problemas já foram sistematizados no artigo assinado com o Nuno, em que criamos um método para detectar textos com código secreto, “O gaio método”. É um código parasitário, porque não tem signos próprios, usa os das Ciências Naturais. Simplesmente, aparecem desfocados, sob a forma de incorrecções, que ultrapassam a margem de erro admissível. Por isso, e pelo facto de estarmos a lidar com obras colectivas, ou com um anfiteatro de leitores que usam as mesmas tácticas, e lhes respondem, assumem por vezes o carácter de paródias. Os erros são aos milhares, mas distribuem-se por poucas categorias. Detectei até agora erros de geografia, de biologia das espécies, de biografia dos autores, de nomenclatura, e de ortografia da nomenclatura latina. A par dos erros aparece outro tipo de informações a pedir interpretação, por causar perplexidade. É o caso da irrupção da simbólica, por vezes maçónica. Em Gonçalo Sampaio não a detectei, mas devo dizer que só conheço a “Flora Portuguesa” de a consultar em bibliotecas. Por isso, quando tiver de entrar em análise de texto miúdo, recorrerei a exemplos das suas “Novas adições e correcções à Flora Portuguesa”. É um artigo de 35 páginas, mais acessível e manuseável, que patenteia o mesmo código subversivo da “Flora Portuguesa”. No caso da “Flora Portuguesa” de Gonçalo Sampaio, e peço-lhe que olhe para a bibliografia, temos em mãos um catálogo de plantas, com quase oitocentas páginas, cuja primeira edição, em fascículos, se iniciou em 1909, sob o título de "Manual da Flora Portuguesa". Desta, o autor é responsável. Na segunda edição, de 1947, dirigida por um discípulo de Gonçalo Sampaio, Américo Pires de Lima, compilaram-se os fascículos anteriores, acrescentaram-se textos de Gonçalo Sampaio, e dois índices, estes da responsabilidade dos editores. Como disse, o problema da “Flora Portuguesa” está em usar sistematicamente uma das categorias de erro que o Nuno e eu apresentamos n’”O gaio método”: é o latim macarrónico, manifesto na aposição de acentos gráficos nos nomes científicos das plantas. Como se lê na epígrafe, Américo Pires de Lima conservou a ortografia macarrónica na segunda edição, de 1946. O Instituto Nacional de Investigação Científica fez duas edições facsimiladas desta, em 1988 e em 1990, perpetuando assim o latim macarrónico, ou escrita híbrida, até aos nossos dias. As duas edições do INIC, com capa dura azul-bebé, são iguais, ambas têm ficha técnica no princípio. Porém a 3ª repete, no fim, em página própria, “Impressão e acabamento na Imprensa Portuguesa. Rua Formosa, 108-116. 4000 Porto”. Esta dupla informação sobre caracteres – a imprensa lida com tipos e caracteres, tal como a Hereditariedade, ciência que estuda o modo como, por exemplo, na descendência de macho e fêmea seleccionados em uma ou duas “espécies”, os caracteres dos dois tipos se mantêm, alteram, sofrem aberrações -, essa dupla informação sobre caracteres, repito, faz com que exista ligeira diferença entre as duas edições, uma com 794 e outra com 792 páginas. Note, Zé Augusto, que uma folha, só para repetir aquela informação, é algo relevante no código: alerta para a existência de duplos e garante que o tipo sofreu variação nos caracteres. Temos assim quase oitocentas páginas de nomes de plantas. Pondo que sejam dez por página, ficamos com uns oito mil nomes. Porém, como em geral o nome científico é um binómio, a quantidade de palavras em latim que gemem sob o peso dos acentos gráficos ascende a dezasseis mil. Recuo aos oito mil pois nem todas são acentuadas e há outro tipo de excepções. Ora uma obra académica, patrocinada pelas mais altas instâncias científicas de um país, cuja errância ortográfica se perpetua em edições facsimiladas, para que se não perca a memória da alteração dos caracteres, merece o nosso estudo. É o que me proponho fazer nas páginas seguintes. |
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ISTA - site do Instituto S. Tomás de Aquino |
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