Categoria: Zuca Sardan
ZUCA SARDAN | Nasci no Rio de Janeiro, atrás do Aqueduto da Lapa. Pequenino, vi o Zeppelin indo pro Pão de Açúcar. Encontrei as Walkyrias num bambuzal de cervejaria em Petrópolis. E surgiu a Lua em meu quarto. Comecei a desenhar pra gravar essas fortes impressões. Tenho, assim, de metiê de desenhista, uns já quase oitenta anos. Em poesia me iniciei mais tarde, já rapazola. Comprei o livro Les Fleurs du Mal, de Baudelaire, e foi um deslumbramento! Passei a escrever Les Fleurs d’Étoffe (quisera fossem Flores de Estufa, mas não encontrei o vocábulo em meu dicionário escolar, e decidi fazê-las de Estofo). Um dia minha mãe descobriu o caderno secreto e o trouxe pra sala, e mostrou ao Paulo Bello, um tipo extraordinário, elegantíssimo, colete, com relógio de corrente, gravata Coco Chanel, e um charutão puro Habana, voz roufenha, e que passara a juventude em Paris, no Champs Elysées, no Moulin Rouge, na Opera Garnier, no Louvre, nas peças de Sarah Bernhard. Adorava o theatro, e com essa autoridade de grande parisardo, tomou do livro, e começou a recitar com máxima dramaticidade. Minha mãe chorou, meu pai manteve, correto marxista, um silêncio distinto. Mas eu, desde então, tornei-me um Poeta! Surrealista, bien sûr.