Categoria: Fernando Aguiar
Natural de Lisboa, Fernando Aguiar (1956-) é Licenciado em Design de Comunicação pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Paralelamente à sua actividade como artista plástico, poeta e performer, Fernando Aguiar organizou festivais, exposições e antologias de poesia experimental, entre os quais Poemografias: Perspectivas da Poesia Visual Portuguesa (1985, com Silvestre Pestana), 1º Festival Internacional de Poesia Viva (1987), Concreta, Visual, Experimental, Poesia Portuguesa 1959-1989 (1989, com Gabriel Rui Silva), Visuelle Poesie Aus Portugal (1990), Poesia Experimental dels 90 (1994) e Imaginários de Ruptura, Poéticas Experimentais (2002). Esta intensa atividade contribuiu decisivamente para a divulgação e afirmação nacional e internacional da poesia experimental portuguesa.
Na obra de Fernando Aguiar, que se inicia na década de 1970, encontramos uma intersecção singular entre escrita, pintura, instalação e performance. O desenho e os processos de inscrição da letra são desenvolvidos num constante contraponto entre a pura visualidade plástica da pintura e da colagem, por um lado, e a sua presentificação corporal através de modos de interação participativa e presencial que envolvem público, autor e signos. A presença performativa e tridimensional da letra e da palavra manifesta-se igualmente em projetos de instalação e de arte pública, como é o caso do parque Soneto Ecológico (1985, 2005), plantado em Matosinhos em 2005. A experimentação visual e sonora com a palavra ocorre ainda sob a forma de livros, mas é no desenvolvimento de uma poética da performatividade presencial do sujeito e da palavra e numa pesquisa plástica e pictórica da letra que a sua obra mais se singulariza. Daí resultam plurais formas autoreflexivas que apontam, de forma metonímica, para a própria linguagem e para o suporte e ato de inscrição em si mesmos. É frequente encontrar na sua produção artística letras isoladas que, rejeitando pertencer à cadeia de unidades de significação comuns (como a palavra, o verso ou a frase), emergem enquanto produtoras de sentido por si mesmas ou na relação que estabelecem com outros significantes vizinhos. A experiência de fruição da letra é intensificada através do seu isolamento e conseguinte reagrupamento, muitas vezes dotando os artefactos produzidos de um caráter lúdico ou cómico. Isto faz-se sentir tanto nos seus trabalhos de poesia visual e concreta como nas ações performativas que o autor tem desenvolvido de forma intensa nas últimas quatro décadas.
Obras principais > Dos seus livros de poesia, refiram-se: Poemas + ou – Histo(é)ricos (1974), O Dedo (1981), Minimal Poems (1994), Os Olhos que o Nosso Olhar Não Vê (1999), Tudo por Tudo (2009) e Estratégias do Gosto (2011). Lançou recentemente uma caixa de postais com poemas visuais: Imaginando la poética. Poesia Visual (Madrid, delCentro Editores, 2010). Algumas das suas performances estão também documentadas em livro: Rede de Canalização (1987), Recent Actions (1997) e A Essência dos Sentidos (2001). Organizou o 1º e o 2º Encontro Nacional de Performance (Torres Vedras, 1985; Amadora, 1988) e realizou inúmeras intervenções e performances poéticas em festivais, museus e galerias de arte em mais de uma dezena de países. Das suas exposições individuais refiram-se: POESI AV ISUAL (Lisboa, 1979), Ensaios para uma Nova Expressão da Escrita (Lisboa, 1983), Palavras Sob Palavra (Torres Vedras, 1984) e O Papel dos Signos (Setúbal, 1992). Destaque-se ainda o Arquivo Fernando Aguiar, uma colecção de literatura experimental constituída por cerca de 2.500 originais, maioritariamente obras e documentação de poesia experimental e visual, mas também de áreas afins como a arte conceptual, Fluxus, performance e arte postal, produzidas a partir da segunda metade dos anos 60, com uma especial incidência na poesia visual dos anos 80 e 90.
[Biografia escrita por Manuel Portela e Bruno Ministro]
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