::: ::: :::MARIA AZENHA

é isto o que nos resta, Du Xinjian?

escrevo –Te bilhetes na alma dos espelhos

nem sempre as palavras chegam

há fotografias como punhais

entrarei em minha casa

nem sempre as palavras chegam

nem sempre as palavras chegam

encosto o ouvido

às páginas do livro que nunca escreveste

e sei que és um búzio

ao

anoitecer

mando-te mil recados pelas lâminas do vento

da tua boca brota uma fonte

digo amo-te e às vezes a memória

é onde os pássaros não voam

nem sempre as palavras chegam

para levar as estrelas aos teus olhos

nem eu sei dizer o teu nome

 

maria azenha

2005,julho,lisboa