::: ::: :::MARIA AZENHA

é isto o que nos resta, Du Xinjian?

escrevo –Te bilhetes na alma dos espelhos

nem sempre as palavras chegam

há fotografias como punhais

entrarei em minha casa

é isto o que nos resta, Du Xinjian?

é fácil repousar os olhos sobre a água azul

sobre esta delicada água transparente

testemunha de tesouros e antigos búzios

a infância aqui é uma árvore inclinadamente subtil

uma navegação mágica sem barcos na glória do corpo

onde acontecem sílabas nascentes

onde os peixes do silêncio escrevem as primeiras letras

antes do dilúvio azul

com elas pude atravessar inteiramente o mundo

hoje

desaparecida na chuva

venho de uma peste arrancada

brutalmente

aos semáforos do século

ligados em rede

entrámos por uma europa obscura

com raízes assentes em templos de petróleo

e

areias bruscas

é isto o que nos resta, Du Xinjian?

maria azenha

2005,junho,lisboa