TEATRO

 
Farsa de Inês Pereira
GIL VICENTE
 

(Vai-se Pêro Marques e diz Inês Pereira:)

INÊS
Pessoa conheço eu Que levara outro caminho... Casai lá com um vilãozinho, Mais covarde que um judeu! Se fora outro homem agora, E me topara a tal hora, Estando assi às escuras, Dissera-me mil doçuras, Ainda que mais não fora...

(Vem a Mãe e diz:)

MÃE
Pêro Marques foi-se já?

INÊS
E pera que era ele aqui?

MÃE
E não t'agrada ele a ti?

INÊS
Vá-se muitieramá! Que sempre disse e direi: Mãe, eu me não casarei Senão com homem discreto, E assi vo-lo prometo Ou antes o leixarei.

Que seja homem mal feito, Feio, pobre, sem feição, Como tiver discrição, Não lhe quero mais proveito. E saiba tanger viola, E coma eu pão e cebola. Siquer uma cantiguinha! Discreto, feito em farinha, Porque isto me degola.

MÃE
Sempre tu hás-de bailar E sempre ele há-de tanger? Se não tiveres que comer O tanger te há-de fartar?

INÊS
Cada louco com sua teima. Com uma borda de boleima E uma vez d'água fria, Não quero mais cada dia.

MÃE
Como às vezes isso queima!

E que é desses escudeiros?

INÊS
Eu falei ontem ali Que passaram por aqui Os judeos casamenteiros E hão-de vir agora aqui.

 
Farsa de Inês Pereira
Aqui entram os Judeus casamenteiros>>>>>>>>>
 
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