INÊS
Pessoa conheço eu Que levara outro caminho... Casai lá com um vilãozinho, Mais covarde que um judeu! Se fora outro homem agora, E me topara a tal hora, Estando assi às escuras, Dissera-me mil doçuras, Ainda que mais não fora...
(Vem a Mãe e diz:)
MÃE
Pêro Marques foi-se já?
INÊS
E pera que era ele aqui?
MÃE
E não t'agrada ele a ti?
INÊS
Vá-se muitieramá! Que sempre disse e direi: Mãe, eu me não casarei Senão com homem discreto, E assi vo-lo prometo Ou antes o leixarei.
Que seja homem mal feito, Feio, pobre, sem feição, Como tiver discrição, Não lhe quero mais proveito. E saiba tanger viola, E coma eu pão e cebola. Siquer uma cantiguinha! Discreto, feito em farinha, Porque isto me degola.
MÃE
Sempre tu hás-de bailar E sempre ele há-de tanger? Se não tiveres que comer O tanger te há-de fartar?
INÊS
Cada louco com sua teima. Com uma borda de boleima E uma vez d'água fria, Não quero mais cada dia.
MÃE
Como às vezes isso queima!
E que é desses escudeiros?
INÊS
Eu falei ontem ali Que passaram por aqui Os judeos casamenteiros E hão-de vir agora aqui.
|