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Finge-se que Inês Pereira, filha de hüa molher de baixa sorte, muito fantesiosa, está lavrando em casa, e sua mãe é a ouvir missa, e ela canta esta cantiga: |
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Canta Inês: Quien con veros pena y muere Que hará quando no os viere? (Falando) INÊS Coitada, assi hei-de estar Encerrada nesta casa Como panela sem asa, Que sempre está num lugar? E assi hão-de ser logrados Dous dias amargurados, Que eu possa durar viva? E assim hei-de estar cativa Em poder de desfiados? Antes o darei ao Diabo Que lavrar mais nem pontada. Já tenho a vida cansada De fazer sempre dum cabo. Todas folgam, e eu não, Todas vêm e todas vão Onde querem, senão eu. Hui! e que pecado é o meu, Ou que dor de coração? Esta vida he mais que morta. Sam eu coruja ou corujo, Ou sam algum caramujo Que não sai senão à porta? E quando me dão algum dia Licença, como a bugia, Que possa estar à janela, É já mais que a Madanela Quando achou a aleluía. Vem a Mãe, e não na achando lavrando, diz: MÃE MÃE INÊS MÃE INÊS MÃE INÊS MÃE INÊS MÃE INÊS |
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