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(Entra Lianor Vaz) |
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LIANOR MÃE LIANOR MÃE LIANOR MÃE LIANOR Vinha agora pereli Ó redor da minha vinha, E hum clérigo, mana minha, Pardeos, lançou mão de mi; Não me podia valer Diz que havia de saber S'era eu fêmea, se macho. MÃE LIANOR - Irmã, eu te assolverei Co breviairo de Braga. - Que breviairo, ou que praga! Que não quero: aqui d'el-Rei! - Quando viu revolta a voda, Foi e esfarrapou-me toda O cabeção da camisa. MÃE Eu cuidei que era jogo, E ele... dai-o vós ao fogo! Tomou-me tamanho riso, Riso em todo meu siso, E ele leixou-me logo. LIANOR Se estivera de maneira Sem ser rouca, bradar'eu; Mas logo m'o demo deu Catarrão e peitogueira, Cócegas e cor de rir, E coxa pera fugir, E fraca pera vencer: Porém pude-me valer Sem me ninguém acudir... O demo (e não pode al ser) Se chantou no corpo dele. MÃE LIANOR MÃE LIANOR MÃE LIANOR E soltou-me, porque vinha Bem contra sua vontade. Porém, a falar a verdade, Já eu andava cansadinha: Não me valia rogar Nem me valia chamar: - «Aque de Vasco de Fois, Acudi-me, como sois!» E ele... senão pegar: - Mais mansa, Lianor Vaz, Assi Deus te faça santa. - Trama te dê na garganta! Como! isto assi se faz? - Isto não revela nada... - Tu não vês que são casada? MÃE LIANOR Não lhe dera um empuxão, Porque sou tão maviosa, Que é cousa maravilhosa. E esta é a concrusão. Leixemos isto. Eu venho Com grande amor que vos tenho, Porque diz o exemplo antigo Que a amiga e bom amigo Mais aquenta que o bom lenho. |
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