Junto às margens impassíveis dos rios da Babilónia
os salgueiros têm folhas e espinhos hábeis de silêncios,
o silêncio obriga-me a ouvi-lo e agride sem compaixão
a memória absoluta na chama que se desfibra metálica
entre as cordas da última jangada nas veias das águas,
o meu amor é uma navalha na garganta cúmplice
reinventando hoje o retorno da tua voz hálito genuíno
iluminando-te lentamente na cozedura plena das palavras,
agora tu és uno como o tempo despido dos dias robustos
na tua morte floresce a arquitectura nua da minha morte
aves em vigília serena sobre os rebentos dos salgueiros,
quero apreender a semente nas águas puras da Babilónia
a acústica sagrada do búzio que cadencia a tua imagem
o espelho hibernal que subsistia entre ti e a boca da morte,
emudecido sei que onde as feridas se alojam indolentes
a cria dobra-se do regaço incorruptível e agora sou adulto.
In , O Arquipélago do espanto(inédito)
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