Não te conhecerá a víbora ou as oliveiras
nem os cães e os escorpiões da tua carne
nem as renovadas crias ou a sílaba fresca.
Não te conhecerá a fêmea nem o dilúculo
porque como cometa fulminante já és pó.
Não te conhecerá o dorso da argila viva
nem o linho onde assentou o sangue aceso
nem a memória mutilada do primeiro fogo.
As trovoadas em breve cantarão as chuvas
o pó subirá às árvores abrigar-se-á nos olhos
a noite onde te habituarás a ter a única noite.
O espaço em que se finge ter tido um destino
as constelações palpáveis dos dias dos animais.
Não te recordará ninguém nas pérfidas vozes
como todos os mortos que se olvidam perdoados
entre as têmporas orgulhosas de abutres apagados.
In, O Arquipélago do espanto(inédito)
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