E que às margens do
rio de jacarés te cavem uma sepultura
no outeiro mais
próximo,
conduzam-te
com bronze no
pescoço e as orelhas
e os tornozelos e um
grande ramo de flores amarelas
escolhidas com
primor
pelas donzelas
— com sorte orquídea
das ilhas —
Um ramo
que quando encontrem
o teu corpo os arqueólogos
japoneses e alemães
à margem
do grande rio de
jacarés
seja
a prova maior de que
os teus filhos veneravam os mortos
carregando os seus
joelhos com um peso amarelo
que não era de ouro,
não,
mas que igualmente
vencia
a natural
resistência dos ossos
ao fim e ao termo da
tua civilização impudentemente oferecidos
em arco aberto
— isso do peso das
flores, o peso da beleza nas ancas da morte —
Dispostos já os teus
ossos ao açougue dos futuros
se isso quer dizer
algo ainda,
agora que é então e
as tuas mãos de criança
cortam as pétalas de
flores amarelas
e lançam os seus
cata-ventos ao socairo
perguntando-se em
línguas já desaparecidas
quer-me não me quer
perguntavam-se os
antigos estas coisas?
muito
conheciam o amor os
nossos antigos?
poucochinho
— ou era uma doença
como a peste, chegada de lontano —
Quão pesadas as
flores
que frágeis os meus
ossos e esta língua que hoje falo
ninguém poderá
escrevê-la quando
— quando? —
Moça dos rios
enterrada em qual outeiro
muito
poucochinho
os meus ossos já
vencidos
sabem que talvez
nada
[….]
(Inscrição
inconclusa numa escavação, língua desconhecida.
Esta é somente uma
versão muito livre
do aroma que exalam
as flores amarelas:
a cultura à qual
pertenceu o possuidor destes restos não precisava
de
escritura). |