Gabriel Chávez Casazola

Poemas

Tradução de Pedro Sevylla de Juana e colaboração de Nicolau Saião

POEMAS - INDEX

O sonho de Bartimeo (Bartimeo’s dream)

Voo nocturno / Arte poética

A canção da sopa

Certificado

Ne nos inducas

Lucas 13, 4

Alvíssaras

E que às margens

Lucas 13,4

Quem eram aqueles dezoito homens

– talvez mulheres, quiçá também crianças, aqui o genérico é equívoco -

sobre cujas cabeças viram desmoronar-se

a Torre de Siloé, da qual nada sabemos

salvo o que continua a referir-nos no seu Evangelho

o médico e cronista hebreu Lucas?

 

Eram porventura construtores

que levantavam a estrutura da Torre

ou que a escoraram, falhando na tentativa?

Eram transeuntes, que passavam abrigando-se à sua sombra

do fogo zenital, do brilho inclemente do sol nas areias?

 

Nada sabemos deles também, salvo o que o Escolhido disse

- reverberação, eco límpido através dos séculos -

pela mão de Lucas:

 

Que os mortos de Siloé

(e pode haver dito de Port au Prince ou do Maule)

não eram mais nem menos culpáveis

que os demais homens e mulheres da terra.

 

Que o mistério da tragédia – ou melhor: do acidente -

é algo que escapa às nossas mentes breves

e secretamente faz parte do anverso da trama

do Grande Tecido, do qual vemos somente

- per speculum in aenigmate -

 o seu reverso,

 

cheio de torpes nós, de cabos soltos, de absurdas laçadas

e mortos absurdos como aqueles dezoito homens

–  ou mulheres, ou crianças - de Siloé,

ou  os milhares de Kerman, de Shan Si e de outras províncias

dos reinos que temos afadigadamente construído

e que um dia podem desmoronar-se

como a torre de Jerusalém, quebrar-se em dois ou em três

tal qual  as ruas de São Francisco ou de Lisboa.

 

— E contudo,

os arqueólogos afirmam que a torre derruída

pertencia às muralhas da cidade e se erguia junto de uma fonte

de que ademais tomava o nome, no vale de Tyropean.

 

Falo da afamada fonte de Siloé, da qual falaram já os profetas

Nehemías e Isaías, rica em água de vida,

a cujo tanque talvez tenham ido saciar a sua sede

aqueles dezoito homens;

a cujas águas continuaram a ir saciar a sua sede os homens e as mulheres e

as crianças

durante muito tempo depois da tragédia;

 

já que o acidente, a dor, a morte, o despropósito,

a catástrofe,

por mais que nos esmaguem

ou achatem os que mais perto se encontrem de nós

não podem matar a sede de infinito

que nos aflige desde o princípio,

a sede de luz

que saciamos nos bebedouros da dita,

mesmo quando se encontram  situados

nos próprios tanques onde nos fez desmoronar  o sofrimento.

 

Ali mesmo, no vale de Tyropean. 

Gabriel Chávez Casazola (1972) Poeta, escritor y periodista boliviano. 

Ha publicado los libros de poesía Lugar Común (1999), Escalera de Mano (2003) y su tercer poemario se encuentra en prensa (2010).  Sus poemas están recogidos en suplementos, revistas y antologías nacionales e internacionales. Ha participado en numerosos encuentros y festivales de poesía en su país y fuera de él. Impartió el Taller de Poesía de la Universidad Andina “Simón Bolívar” en Sucre, así como otros talleres del género en universidades y centros culturales.

Publicó además un libro de ensayos y artículos y otro de crónica periodística, además de cuentos dispersos en revistas y antologías.

Como editor, concibió y editó, para Fundación Cultural “La Plata”, una vasta Historia de la Cultura Boliviana en el siglo XX (2 vol., 2005 y 2009), reconocida como el Libro Mejor Editado del año 2009 por la Cámara del Libro de Santa Cruz.  Por encargo de esta misma Fundación, cuidó la reedición de varias obras agotadas de autores clásicos bolivianos para el sello Agua del Inisterio.

Como gestor cultural, dirigió el Festival Internacional de la Cultura de Bolivia y fundó la Semana del Libro en la ciudad de Sucre, capital constitucional de su país. 

Como periodista, ha sido editor y columnista de importantes diarios bolivianos, como La Prensa, Última Hora y Correo del Sur; corresponsal de La Razón y analista del semanario Pulso de La Paz, además de colaborar con otros medios impresos de su país, como El Deber y La Palabra.   Actualmente tiene una página de literatura y otra de análisis político en el diario “Página Siete” de La Paz.

Premio Nacional de Ensayo Periodístico, Primera Mención del Premio Nacional de Cuento Franz Tamayo, Biodiversity Reporting Award de Conservación Internacional. El Estado boliviano le concedió la Medalla al Mérito Cultural en diciembre de 2005.

Mail: casazola@hotmail.com