1
ágil no meio da manhã
das cidades que me condenam e do vento que me inícia
tenho direito a tanto
à carícia ao mais rotúndo abraço
vou aprendendo a respirar
2
deito-me levanto-me
vou conhecendo os dedos do clima
faço os meus dias com os outros
e agito algumas palavras como tantas
3
e atrevo-me a dizer estou crescendo
e atrevo-me a dizer
há que apoiar o peito sobre o mundo
para esgotar a luz da aventura
as naves do desvelo
o passo livre através das lendas
4
vou cohecendo as vozes dos inocentes
do primeiro caído por sorrir
o sabor dos meus anos acolhidos sem destreza
5
queria falar de mim
sem esqueçer ninguém
6
faço o amor
o amor nas praças e nas ruas
en todos os rincós da história
e não conheço pedras
no amor
7
sím há gestos que me convocam
outros acolhem a minha ternura
há uma altura doce que me comove as horas
8
ela falará por mim
9
uma ciência treme-me no alento
o caminho rebelde
a aurora bem nascida
e os remorsos
sentina do meu voo
10
ninguém se negue a começar
a rir
e todavia ainda não nos conhecemos
conhecemo-nos demais
até que a poesia estale
como uma palavra verdadeira
11
pela noite sei permanecer
sei crescer e conhecer-me
ou deixarme cair desprevenido
sobre os meus semelhantes junto aos meus semelhantes
12
e isto não custa muito
e este corpo sem ar é um silêncio enorme
13
construí o meu domínio
tenho o dia a cidade o peito da chuva
a liberdade como uma mão
14
e para recordar
sei quanto pesa a esperança
15
a esperança
a tua mão sobre mim
mão para brincar a ver como vamos
mão começa o tempo |