Veneza. A água e os canais, a Torre dos Mouros,
pontes numerosíssimas.
Entre o bulício e o silêncio, o fulgor escuro, azul,
o Rialto, a laguna, o espaço aberto,
os dedos húmidos, palácios saindo do mar,
acordes de Ponchielli, Scarlatti flutuando
às portas do Oriente,
entre cenas de Carpaccio, Tintoretto,
o sol, arquétipos e música conservando-se,
no esplendor da cidade dourada.
E é Wagner que escuto agora, o Tannhäuser,
pensando já no Inverno (no Natal),
mas são ainda as pombas e os cavalos de bronze
da Praça de S. Marcos
que iluminam a água e os reflexos,
a Virgem Nicopeia, gôndolas negras como esquifes,
pinheiros odorosos,
a Chiesa de Vivaldi, as Quatro Estações.
As coisas mudam, tal como este apontamento,
onde escrevo mesas, porcelana, vinho e cristais,
recordando os poemas azuis que trouxe
de Veneza, essa cidade onde Wagner escreveu
o segundo acto de Tristão e Isolda,
e morreu, diante da beleza imortal
que se afunda lentamente,
na sua figuração aquática, na sua essência
de laranjas, orquídeas.
Nos seus cabelos de iodo, a música despenha-se,
fragilíssima, na sua densa filigrana,
nesse vórtice salgado,
que conservo entre máscaras, seda,
mosaicos bizantinos, torres de ocre e marfim,
reflexos suavíssimos,
........................................violoncelos de aroma.
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