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MARIA DO SAMEIRO BARROSO
Jardins Imperfeitos*

Era uma janela aberta, incandescente
Aves/Labaredas
Quarteto de cordas
Crítica

QUARTETO DE CORDAS

Numa palavra, o medo, o amor, a morte,

Gritos de bruma e água que libertam dardos

pontiagudos.

Na noite que refulge entre cálices de fuligem.

Nos dedos tépidos que vejo no rosto transparente

das roseiras imóveis. O chão por debaixo

das nuvens.

 

E ouço Schubert, na angústia pulsátil

de um quarteto de cordas:

«Der Tod und das Mädchen»** ,

a morte voltejando, em ilhas perfumadas,

na face gelada do sono vertiginoso,

entre pontes luminosas, buganvílias

e astros negros a absorver o musgo e as casas,

 

a vida presa ao orvalho, exilado em searas puras,

até que a manhã chegue e estanque as cordas

que cantam,

entre lâmpadas obcecadas

 

....................................................por um profundo azul.

 
*Jardins Imperfeitos, Universitária Editora, Lisboa, 1999.
**«A morte e a donzela».
 

Maria do Sameiro Barroso é licenciada em Filologia Germânica e em Medicina e Cirurgia, pela Universidade Clássica de Lisboa. Exerce a sua actividade profissional como médica, Especialista em Medicina Geral e Familiar.

Em 1987 iniciou a sua actividade literária, tendo publicado livros de poesia e colaborado em antologias e revistas literárias. A partir de 2001, a sua actividade estendeu-se à tradução e ensaio, tendo publicado, em revistas literárias e académicas.

Em 2002 iniciou a sua actividade de investigadora, na área da História da Medicina, tendo apresentado e publicado trabalhos, nesta área.