Sobreviver na noite que aprisiona as aves / labaredas
é habitar o corpo vazio de nenúfares brancos. Subir na água em espiral, nos veios túrgidos da água adolescente, até encontrar, num reverso lento, a sombra das imagens, a marca da lua e das serpentes, como se o coração dançasse na escalada azul que urge e penetrasse no reino secreto que se desdobra, numa pedra alquímica, conchas, madrepérola. Fendas, cicatrizes. Lírios sinuosos, veias. Violoncelos transparentes. No fulgor translúcido onde o todo se reinscreve. No éter cinzelado dos goivos e dos astros, num acto contínuo, extasiado, de rumor e silêncio, onde escuto marcas na areia deseres que vieram pela noite, pela súbita consciência. Pelas raízes da água, velozes, sedentos, pelos trilhos do vento, atravessando a sombra, os declives; a crina ondulante, os cascos em ferida. A garupa sedosa. A boca liberta pela noite do tempo. O tempo fendido. As marcas na areia. A indecifrável profecia seguindo os indícios da luz. Na figura exacta da aurora que recupera o corpo de algas e açucenas nas sombras movediças, dos cometas fosforescentes que se escoam, na penumbra suavíssima, de corolas negras,
...........................................................................na noite acordada.
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