Rodrigo aproximou-se da janela e por alguns instantes ficou a
olhar a praça, através dos vidros meio embaciados.
O desaparecimento do Senador dava-lhe uma estranha sensação de
orfandade que ele não procurava explicar em combater. E agora lhe
vinha uma súbita e enternecida saudade do pai, o desejo de vê-lo,
ouvi-lo, tê-lo ali no Sobrado como companheiro naquela hora amarga.
Desenhou-se-lhe na mente, nítida, a imagem de Pinheiro Machado e
tal como o vira no inverno de 1910. O Senador apertava-lhe a mão e
dizia: "Há homens que nasceram talhados para o sacrifício. Mas uma
coisa sei te dizer: eu não te tenho vocação para mártir."
Rodrigo fez uma brusca meia volta:
- Pelas costas, os miseráveis!
Ao saberem da notícia, Flora e Maria Valéria vieram para a sala
e ficaram junto da porta, mudas, num silêncio apreensivo.
Rodrigo leu nos olhos de ambas uma expressão que com freqüência
vinha ao semblante das mulheres do Rio Grande: o medo ancestral da
guerra.
- Precisamos fazer alguma coisa! - exclamou, olhando para o
intendente. - Vou redigir um telegrama à nossa bancada no Rio. Algo de
vibrante que leve o nosso protesto, a nossa indignação ante esse crime
bárbaro, esse...
Calou-se, engasgado.
E naquela mesma noite, ao entrar no Comercial, onde esperava
colher assinaturas para o telegrama, ouviu um forasteiro comentar em
altos brados: "Bem-feito! foi uma limpeza! Era um caudilho, um déspota,
a asa negra do Brasil!" Precipitou-se sobre ele, segurou-o pela gola do
casaco, deitou-o sobre um dos bilhares e esbofeteou-lhe repetidamente a
cara, vociferando:
- É para aprenderes a respeitar os homens, canalha!