Olívia se aproximou de Eugênio e com um lenço enxugou-lhe o suor
da testa. Estava terminada a traqueotomia. A enfermeira juntava os
ferros. Ruído de metais tinindo, de mesas se arrastando. Eugênio tirou
as luvas e foi tomar o pulso do pequenopaciente. A criança como que
russuscitava. A respiração voltava lentamente, a princípio superficial,
depois mais funda e visível. O rosto perdia aos poucos a rigidez
cianótica.
Eugênio examinava-lhe as mudanças do rosto com comovida atenção.
Vencera! Salvara a vida de uma criança!
A vida é boa! - pensava Eugênio. Ele tinha salvo uma criança.
Começou a cantarolar baixinho uma canção antiga que julgava esquecida.
Sorvia com delícia o refresco impregnado do cheiro da gasolina
queimada. Sentia-se leve e aéreo. Era como se dentro dele as nuvens de
tempestade se tivessem despejado em chuva e sua alma agora estivesse
límpida, fresca e estrelada como a noite.
- Por que será - perguntou ele a Olívia - por que será que às
vezes de repente a gente tem a impressão de que acabou de nascer...
ou de que o mundo ainda está fresquinho, recém-saído das mãos de quem
o fez?
Eugênio percorre em alta velocidade a estrada que leva à cidade,
onde Olívia agoniza. "Que bom se pudesse ficar no campo, à beira da
estrada, encostar as faces na frescura do capim molhado, dormir,
esquecer, ser apenas uma pedra no caminho, a folha duma árvore...
Fugiria à situação pavorosa de ver Olívia morta..."