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4. “Que grupo na sociedade irá beneficiar das opiniões |
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Chegados a esta fase, coloca-se novamente a questão enunciada inicialmente: “que grupo na sociedade irá beneficiar das opiniões que o texto exprime?” Vimos que, na perspectiva da psicologia social, o grupo dominado tende a ser um “grupo agregado”: um conjunto de individualidades relativamente indiferenciadas, a que corresponderá uma identidade heterónoma, externa, indiferenciada, colectiva, sem especificidade própria. Parece ser isto que acontece no discurso sobre as mulheres enunciado pelo Magistério da Igreja Católica, para o qual não existem mulheres, mas sim “a mulher”, à qual se atribui uma série de características “eternas”. Assim, diz-se concretamente na Mulieris dignitatem: “A mulher representa um valor particular como pessoa humana e, ao mesmo tempo, como pessoa concreta, pelo facto da sua feminilidade. Isto refere-se a todas as mulheres e a cada uma delas, independentemente do contexto cultural em que cada uma se encontra e das suas características espirituais, psíquicas e corporais, como, por exemplo, a idade, a instrução, a saúde, o trabalho, o facto de ser casada ou solteira.” (nº 29) É esta “visão” da mulher que constitui o guia para a nossa adaptação quotidiana, que nos permite tipificar qualquer acontecimento singular, de acordo com o processo de categorização que identificámos como estando associado a todas as formas de conhecimento, isto é, de classificação do “desconhecido”, num processo de apropriação cuja última meta é objectivá-lo, fixá-lo em imagens, torná-lo outro, para utilizar a própria terminologia de Simone de Beauvoir (1949), que se refere ao discurso e à cultura androcêntricos como uma redução da mulher a um outro, a alguém que precisa de uma definição ulterior para ser compreendida, como se a sua definição enquanto ser humano fosse insuficiente, se não mesmo desadequada. A “outrização” de que falávamos inicialmente passa, então, pela repetição de estereótipos, imagens interpostas entre o indivíduo e a realidade, generalizações falsas e reveladoras de falta de conhecimento, “crenças estruturadas acerca dos comportamentos e características particulares do homem e da mulher”, que se transformam numa identidade atribuída e imposta ao outro, “a verdade do outro”, “imutável e que não se desactualiza” (como se afirma no texto da Mulieris dignitatem nº 30). Ora é neste aspecto que a argumentação da Igreja Católica para justificar a “ordem das coisas”, que, segundo vimos, à luz da psicologia social, pode ser considerada como uma ordem de subordinação ou dominação velada, mitigada, é uma argumentação apodíctica, que se imuniza à crítica, já que inscreve a ordem em que crê na convicção de que a mesma terá sido estabelecida pelo próprio Deus: a “naturalização”, por onde passa a defesa dos valores sociais enquanto categorias descritivas da natureza humana, constitui o argumento último para justificar o comportamento do grupo dominante em relação ao grupo dominado: não te tinha dito que elas são assim? Teresa M. Leal de A. Martinho Toldy |
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