O frio da noite
é um impulso invisível
ao oculto
desconhecido -
as aves migrantes há muito
partiram
em direcção
a outro lado
deixam as cidades
poluídas
por cemitérios de sucata
e baldios onde
crianças sem-nome
dormitam
no silêncio das estrelas
as mãos pequenas
inflamadas
mal aquecem em volta
das fogueiras de rua
cada lágrima é um verso
traçado a fogo
como sinal genético
predefinido
a barreira das dunas
sua última fronteira
assim
a cor do fumo
deste imenso nevoeiro
fala ao nosso tempo
deixando
ante os vírus mortais
um recado de inverno
intimidado
neste vagar
só de manhã
o sol aparece... a enxugar as lágrimas
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