MARIA ESTELA GUEDES
Ler ao Luar

Esoterismo das “33 Folhas”
de Ernesto de Sousa


INDEX

1. Isabel, um pouco de História
2. 33 Folhas ou 33 Graus?
3. Mistérios do girassol
4. Notas

3. Mistérios do girassol

O girassol abre o livro, como verbete em dicionário de símbolos: “Héliotrope”, eis o título que anuncia os mistérios da iniciação, muito claramente erótica, mesmo quando ES nos dá enormes charadas com o 3, ou quando vai buscar aos índios da Colômbia um texto de aparência culinária:

Informo-te, girassol, que tenciono comer-te. Podes sempre ajudar-me a crescer de tal maneira que me seja dado atingir o cume das mais altas montanhas, e que nunca seja desirmanado. Suplico-te, girassol! Tu, que és o maior de todos os mistérios! (Folha 1)

O girassol é originário da América. Sabe-se que a sua cultura remonta a mais de três mil anos, no México. Foi introduzido na Europa na sequência dos Descobrimentos Portugueses, no século XVI. Simbolizava o Sol entre os aztecas. Os templos e as sacerdotizas eram coroados com flores de girassol. Os maias, por seu lado, extraíam dele uma substância usada como afrodisíaco. Continuamos com a iniciação nos mistérios do corpo, com um Mestre reversível: Isabel é iniciada e inicia; ambos, pelo amor, se iniciam nos mistérios da Poesia, indestrinçável da vida, e por isso “O TEU CORPO É REVOLUÇÃO” (Folha 2 – O teu corpo é o meu corpo).

Destas ou de similares questões acerca do heliotrópio e da heliotrópia trata o falso ensaio da Folha 1 – Héliotrope, no qual se anuncia a iniciação, a perversão do status, ou o princípio revolucionário.

Recapitulemos: o livro tem como última data expressa 1972. Só a partir de 1974, com a Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974, o sexo passou a gozar de alguma liberdade. Até então, um simples beijo podia provocar cataclismos domésticos e sociais. Imperava a repressão política, e com ela a religiosa, tendo como resultado a repressão do corpo. Por isso, a liberdade sexual atacava o sistema político. Quanto mais livre o sexo, mais hipótese tem de entrar na libertinagem, espaço no qual as intimidades recebem da opinião pública o nome de pornografia (Folha 5). Quanto mais transgressor, tanto mais subversivo das leis que vigoravam na pátria. Se umas mulheres fizeram a revolução armada, outras fizeram a revolução sexual. Ambas foram necessárias para conquistar a liberdade.

Da transgressão, ou da revolução amorosa, faz parte a união de Dois em Um, a hierogamia celeste. Porém nas bodas alquímicas nada garante que macho seja Ele e que Ela seja fêmea. A metamorfose anunciada pelo girassol, na Folha 1, põe que no acto sexual a mulher possua e o homem se deixe possuir, uma vez transmutados os papéis sexuais. E ainda aqui o amor é política, o amor é História, se dermos atenção à Índia da Folha 7, em que ES nos garante que a penetração equivale ao caminho marítimo. Já no início do livro ele invocava a Virgem e Santa Marinha, imagens líquidas da grande e maternal matriarca.

As mulheres.

A Mulher.

A Revolução antecipada.

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