MARIA ESTELA GUEDES
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Esoterismo das “33 Folhas”
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3. Mistérios do girassol
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O girassol abre o livro, como verbete em dicionário de símbolos: “Héliotrope”, eis o título que anuncia os mistérios da iniciação, muito claramente erótica, mesmo quando ES nos dá enormes charadas com o 3, ou quando vai buscar aos índios da Colômbia um texto de aparência culinária:
O girassol é originário da América. Sabe-se que a sua cultura remonta a mais de três mil anos, no México. Foi introduzido na Europa na sequência dos Descobrimentos Portugueses, no século XVI. Simbolizava o Sol entre os aztecas. Os templos e as sacerdotizas eram coroados com flores de girassol. Os maias, por seu lado, extraíam dele uma substância usada como afrodisíaco. Continuamos com a iniciação nos mistérios do corpo, com um Mestre reversível: Isabel é iniciada e inicia; ambos, pelo amor, se iniciam nos mistérios da Poesia, indestrinçável da vida, e por isso “O TEU CORPO É REVOLUÇÃO” (Folha 2 – O teu corpo é o meu corpo). Destas ou de similares questões acerca do heliotrópio e da heliotrópia trata o falso ensaio da Folha 1 – Héliotrope, no qual se anuncia a iniciação, a perversão do status, ou o princípio revolucionário. Recapitulemos: o livro tem como última data expressa 1972. Só a partir de 1974, com a Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974, o sexo passou a gozar de alguma liberdade. Até então, um simples beijo podia provocar cataclismos domésticos e sociais. Imperava a repressão política, e com ela a religiosa, tendo como resultado a repressão do corpo. Por isso, a liberdade sexual atacava o sistema político. Quanto mais livre o sexo, mais hipótese tem de entrar na libertinagem, espaço no qual as intimidades recebem da opinião pública o nome de pornografia (Folha 5). Quanto mais transgressor, tanto mais subversivo das leis que vigoravam na pátria. Se umas mulheres fizeram a revolução armada, outras fizeram a revolução sexual. Ambas foram necessárias para conquistar a liberdade. Da transgressão, ou da revolução amorosa, faz parte a união de Dois em Um, a hierogamia celeste. Porém nas bodas alquímicas nada garante que macho seja Ele e que Ela seja fêmea. A metamorfose anunciada pelo girassol, na Folha 1, põe que no acto sexual a mulher possua e o homem se deixe possuir, uma vez transmutados os papéis sexuais. E ainda aqui o amor é política, o amor é História, se dermos atenção à Índia da Folha 7, em que ES nos garante que a penetração equivale ao caminho marítimo. Já no início do livro ele invocava a Virgem e Santa Marinha, imagens líquidas da grande e maternal matriarca. As mulheres. A Mulher. A Revolução antecipada. |
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