“O que é isto?!”, perguntam os exegetas, face às Magnalia Naturae, praecipue quoad usus humanos, de Francis Bacon. A estrutura sintáctica do texto foi sabiamente escolhida, para ocultar essa questão, por isso não é nele que acharemos resposta, sim em nós. Até que ponto nos cega a arrogância, para negarmos ao autor de um texto publicado em 1627 (postumamente) a ciência que lhe permite saber o que diz? Em 1627, se porventura não se sabia como alterar a estatura e a fisionomia (e de quê? – de indivíduos ou de espécies?), esse era no mínimo um objecto de investigação. Em 1627, se não se sabia fabricar diamantes artificiais, no mínimo sabia-se que esse era um objecto pertinente de investigação científica. Nada porém nos autoriza a dizer que não se sabia, excepto o medo, apesar de vivermos já em república, e a razoável distância da escolástica. Pesa no entanto sobre nós um paradigma que envolve o conceito de progresso, dificilmente compatível com a aceitação do facto de que as Magnalia Naturae correspondam a uma lista de práticas científicas do século XVII.
Esse e outros textos de Francis Bacon, incluído o que traz por título “Sobre jardins”, constituem o objecto do presente ensaio. |