Não resolvi os problemas que Francis Bacon levanta, limitei-me a apresentá-los nesta assembleia. Em minha defesa direi que ensaístas bem mais preparados, e munidos até de grandes conhecimentos científicos, também os não solucionaram. Cioran espanta-se: Como é possível que os utopistas tenham falado de coisas que só no nosso tempo se descobriram? Os escritores são profetas, magos ou adivinhos? Cioran insulta as utopias, diz que são taras. Persuade-se assim de que resolveu o problema.
Francis Bacon tem resposta para a nossa incompreensão: cega-nos e tolhe-nos a idolatria…
O pensamento está preso em falsas noções, aquilo a que o autor, no Novum Organum, chama os ídolos. Em especial os idola theatri, a idolatria pelos sistemas, a cegueira provocada pelos paradigmas e modelos. A ideologia do progresso impede-nos de pensar que tivesse existido ciência em séculos anteriores àquele em que nós admitimos a sua assunção. Cegamos com os idola fori, os nossos espelhos narcísicos, esses que nos obrigam a decretar que a verdadeira ciência só despontou no século XXI, e está bem de ver que um resto de pudor não me deixou assinalar esse nascimento com o meu próprio nome… |