As duas culturas: o cruzamento dos saberes (in)sustentáveis
                                                      José Augusto Mourão (UNL-DCC)

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Mestre António
Do Unicórnio
Influências
Ciência e ficção
O que é um objecto?
Coda

Coda

A lógica de Aristóteles (384 B.C.) foi a lógica que dominou o mundo até ao século XVII. As suas ideias acerca da ciência natural perduram ao longo da Idade Média e até à Renascença. O Deus de Aristóteles não modelou o Universo utilizando formas geométricas básicas como Platão supunha, ou números como Pitágoras imaginara. O mundo era governado por quatro espécies de causas: formal, material, eficiente e final. A Ars Magna de Ramon Lull (1232) propõe um método mecânico de exaustividade que permite todas as possibilidades de relações de um tópico. É uma motivação que nasce do desejo de afirmar as verdades da Cristandade e aquelas que não podem ser lógicamente negadas pelos não-Cristãos. Paracelso (1493) é um precursor da ciência moderna. Introduziu a análise química da urina e a teoria da digestão. Usou lódão e éter e o uso do mercúrio no tratamento da sífilis. O seu sistema corresponde àquilo a que se poderia chamar uma cosmología orgânica. Aqui o homem é o microcosmo do macrocosmo. A ideia das "Assinaturas" goza então uma larga aceitação, bem como a ideia cíclica da natureza. Estamos no ponto de combinação da ciência nascente e da antiga alquimia.

O speculum mundi medieval tinha em atenção aspectos dos signos linguísticos, tais como as conotações alegóricas, as tradições culturais, as crenças contraditórias e os graus de conhecimento que tratado ciêntífico de hoje consentiria. Esse era o seu modelo, pragmático. Havia, evidentemente um grande chapéu que ligava cada uma das pontas deste tecido: a teologia. O divórcio entre religião e ciência é um facto recente (Vattimo e Rorty). Durante séculos, com os equívocos que provocou, a subordinação da ciência à religião manteve-se. Lendo o Discours de métaphysique de Leibniz (1686) deparamo-nos com a seguinte questão: como distinguir entre factos que podem ser descritos por uma lei e aqueles que existem sem lei, como factos irregulares? O homem simples e o cientista apreendem o mundo directamente através dos dados dos sentidos. Mas os constituintes deste mundo são também objectos científicos. Enquanto os objectos físicos são modelados com base em "sense data" e derivam as propriedades destes "sense data", a semelhança com os "sense data" dos objectos científicos é menos marcada. À medida que a ciência avança, diminui a semelhança, até ao momento em que aparece a onda das máquinas modernas e em que essa semelhança se desvanece de todo. A substituição de objectos científicos por objectos físicos é um processo gradual. Os objectos de que fala Mestre António pertencem mais à geografia fantástica das enciclopédias medievais do que à ciência nova. A sua visão do mundo não acreditava ainda na difereça entre factos e fetiches.

Tudo se narrativiza: a ciência, a religião e a arte porque tudo pretende cegar à totalidade da compreensão. Passamos de um extremo a outro. Latour tem procurado mostrar como "the lack of scientific certainty" inerente à construção dos factos. Ainda vemos os manuais como um catecismo. A corografia de Mestre Cirurgião há-de parecer-nos funambulesca. Como se só a ciência dissesse a verdade e a sua verdade se impusesse. Esta ideia das investigações científicas é ainda uma ideia dominante. Ler o episódio da arca de Noé de forma racionalizante anula-o, muito simplesmente. O dogma da infalibilidade não é apenas reivindicação das igrejas. Como se a ciência tivesse caído do céu. E não houvesse nada nem antes nem depois. “E preciso retomar a definição do monstro, da barbárie, dos ídolos, do martelo e da ruptura”, escreve Latour (1). O medo dessas ontologias de geometria variável obrigam a redefinir o mundo das representações de das coisas. “Não serão todos os dragões da nossa vida as belas jovens que pedem para ser socorridas?” (Rilke)
 
(1) Bruno Latour, op. cit.,  p. 63.

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Última Actualização:
18-Sep-2006