O Jardim dos Frades – |
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Quarto tempo: A pedra de toque |
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“Le dimanche dans la vie,(est le) moment qui délivre des urgences quotidiennes pour permettre un autre regard” (1) |
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Da Idade Média herdámos uma visão paradisíaca e poderemos afirmar com Sinclair que: “Nous faisons notre Éden chacun à notre façon. La vision paradisiaque nous habite.” (1) e ainda: “Le jardin secret du Moyen Age peut très bien se trouver derriére chez nous, si nos murs et nos haies sont assez hauts.” (2). A uma errância física sucedia-se permanentemente uma errância espiritual. Com efeito, quando olhamos para a paisagem aparecem-nos elementos dessa paisagem mais tudo o que sabemos sobre ela. A presença de Cézanne não poderá deixar de emergir com as suas concepções sobre o espaço e, nomeadamente, sobre a multiplicação dos pontos de vista. Como afirma Whitehead: a errância física é sempre importante, mas o poder das aventuras espirituais do homem é ainda maior – aventuras de pensamento, aventuras de sentimentos apaixonados, aventuras de experiência estética" (3) (Ilustração 18, paisagem de Cézanne) Com esta intervenção quisemos, sobretudo, contar a vivência de uma relação afectiva com a paisagem-jardim, narrar como podemos aprender com a Idade Média a desenvolver a capacidade de nos deixarmos maravilhar e a desenvolver o impulso para a especulação, origem de todo o conhecimento. Se continuarmos a prestar atenção ao eco das palavras do frade das Horas de Monsaraz, poderemos fazer nossas as suas palavras e assim incorporar todas as heranças da nossa cultura:
Às palavras de um filósofo da Idade Média - Belas são as coisas que vemos mais belas as que compreendemos - poderemos juntar palavras de filósofos do século xx - a Ciência e a Arte são formas alternativas que nos ajudam “a exprimir a nossa alegria imaginativa na natureza.” (5) Aos elementos sensíveis da paisagem poderemos juntar, hoje, as paisagens resultantes de aventuras intelectuais espantosas: científicas, técnicas e artísticas. Exemplo disso são as imagens de átomos, a árvore abstracta de Mondrian, a árvore inexistente de José Manuel Rodrigues, as paisagens de Cézanne, etc. (Ilustração 20) Lévy-Leblond, físico teórico francês, conta-nos como a sua relação com a arte lhe permite dar espessura ao mundo, que nas suas complexas equações se tornou demasiado plano:
A inquietação em que mergulho nesta convivência (...) é tal que chego a trocar as atribuições de cada actividade, vendo na arte um meio de compreender e de transformar o mundo, e na ciência uma maneira de o contemplar e de o imaginar.” (6) São estas imagens que nos libertam das urgências quotidianas e nos fazem incorporar outros olhares. (Ilustração 22 - Portas Duchamp) Para encerrarmos esta deambulação espiritual recorremos às palavras do filósofo Michel Serres que tão bem traduzem a metodologia de um percurso físico e espiritual:
O tempo passou e a sua marca ficou.... |
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Fonte mourisca |
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Notas | |||||||
(1) H. Pena-Ruiz, Le Roman du Monde – Legendes Philosophiques, 405
(2) A. Sinclair, Jardins de gloire, de délices et de Paradis, 273 (3) Ibid, Ibidem, 270 (4) A. Whitehead, La Science et la MondeModerne, 239 (5) S.L. de Carvalho, As Horas de Monsaraz, 11 (6) A. Whitehead, Essays in Science and Philosophy, 45 (7) Lévy -Leblond, La Pierre de Touche, 182 (8) M. Serres, Le Tiers-Instruit, 249 |
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Outros espaços da ciência no sítio: |
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Outros espaços da espiritualidade no sítio:ISTA - site do Instituto S. Tomás de Aquino |
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Associação de Socorros Mútuos Artística Vimaranense (ASMAV) - Guimarães |
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