O sândalo branco (Santalum album L.), ai-kameli em Tetum, é a espécie mais valiosa de sândalos, a madeira mais cara do mundo - de onde se extraem os melhores óleos e essências - e ocorre endemicamente na ilha de Timor. Paradoxalmente, a presença do sândalo hoje é rara na maioria do território de Timor-Leste. Registam-se alguns pequenos povoamentos nos distritos de Cova-Lima, Bobonaro e Suai, e no enclave de Oecussi, como já era relatado em 1950 por Ruy Cinatti, e ainda uns poucos de exemplares aqui e ali, em algumas povoações.
Noutros tempos não foi assim.
Um viajante chinês de 1436 relatava que “as montanhas estão cobertas de árvores de sândalo” (1). Entre nós, que falamos português, Frei Luís de Sousa contava na História de S. Domingos: “porque o sândalo é um género de árvores que criam os montes daquela ilha em não menos abundância que o mato ordinário das nossas terras”. Já Garcia da Orta, cerca de 1560, concluia: ”e são matas que não se acabam de gastar, assim de uma banda da ilha, como da outra”.
Enganou-se Garcia da Orta. Fruto da devastação e da ganância do homem, o sândalo branco está hoje quase ausente. Existem, no presente, algumas tentativas que visam reintroduzi-lo, trabalho que até já está iniciado pela Missão Agrícola Portuguesa e outros.
Pode dizer-se, no entanto, que um problema mais geral de Timor-Leste é o da desertificação da paisagem – particularmente patente na costa Norte, conforme se comprova em largas manchas como a envolvente de Díli.
A desertificação da paisagem é um círculo vicioso, quando o processo está instalado. São particularmente vulneráveis as regiões cuja precipitação anual não excede os 600 mm (2), estando também em risco as que se situam na gama dos 600-800mm. Começa-se por perder biodiversidade, a que se sucede que a falta de coberto vegetal não protege o solo da erosão, que assim se esvai nas chuvadas torrenciais. Às tantas, fica um quase-deserto de rocha das montanhas, pontilhado de árvores particularmente resistentes, encaixadas em bolsas, como o palavão branco, (Eucalyptus alba), ai-bubur-mutin - mesmo essas vão sendo consumidas para lenha.
A extracção de madeiras valiosas, a agricultura itinerante com as suas queimadas, e o abate de árvores para recolha de lenha são os três grandes factores que induziram a desertificação. Esta só poderá agora ser contrariada com um esforço concertado no triplo sentido de alterar hábitos e mentalidades, de promover a reflorestação e de baixar a procura de lenhas. Mas há que aprender com os erros do passado e ter paciência: o trabalho que se apresenta pela frente tem um horizonte de mais de trinta anos.
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