Desde sempre o sândalo foi explorado e comercializado com as rainhas e os régulos dos pequenos reinos em que Timor se repartia. Conforme nos conta Ruy Cinatti (1), a períodos prolongados de grande extracção, sucederam-se quebras acentuadas e algumas tentativas de repovoamento. São conhecidas referências antigas como a carta do vice-rei António da Câmara Coutinho a D. Pedro II (final do sec. XVII) onde já se afirmava a propósito da extracção de sândalo em Timor : ”...e ainda que nesta tenha havido grandes cortes, contudo como a terra naturalmente o produz poder-se-á melhorar esta desordem não só com o benefício do tempo, mas também com o cuidado, zelo e desinteresse de quem as for governar...”.
Foi longa a história da exploração desenfreada do sândalo durante o colonialismo português. Em Agosto de 1702 o capitão-geral da cidade de Macau lembrava que sem o trato com Timor, Macau havia de perecer, pois da ilha tirava o Senado a maior parte ou quase todas as suas contribuições e despesas. Já em 1590 dizia o bispo de Cochim relativamente ao sândalo de Timor: “vendido em 1ª mão ganham os que o vão buscar cem por cento para os lucros que levam”.
Pode mesmo dizer-se que foi o comércio de sândalo que atraiu a Timor toda a navegação. Mas, desde cedo, ocorreram períodos de alternância no volume de abate e exportação. Um memorial de 1697 refere que “o sândalo que era nesta ilha o principal comércio, está quase de todo estancado pela grande cresta que, no fim da sua vida lhe deu António Hornay”, então o capitão-mor de Solor e Timor.
Quanto menores eram os recursos de sândalo maiores eram as cobiças. Sem remuneração do Estado o cargo de capitão-mor de Solor e Timor usufruía o melhor que a terra lhe dava : tributos, castigos e penalidades traduziam-se em paus de sândalo – “ e por via destas condenações tiram os ditos capitães-mores e outros seus ministros, em cada ano, acima de oito bares de sândalo e cada bar tem seis picos...”
No século XVIII e princípios do XIX, na época dos exploradores e naturalistas (ingleses, franceses e holandeses), o comércio do sândalo também diminuía, por impossibilidade do tráfego seguro e pelo esgotamento dos povoamentos do litoral. Em 1860 existe notícia de que a descoberta de outras espécies de sândalo fez baixar consideravelmente o preço do sândalo branco de Timor: “... e hoje está tão baixo que não paga as despesas do transporte do interior aos portos de mar”.
O período que o sândalo demora a crescer a ponto de se tornar uma árvore adulta é de cerca de 30 a 40 anos. É pois natural haver oscilações com esta amplitude, que se traduzem em ciclos de abate e exportação e contra-ciclos de interrupção do comércio e regeneração.
No último quartel do século XIX o sândalo ocupava ainda uma área bastante extensa, no interior de Timor. Mesmo o litoral, nos arredores de Dili por exemplo, tinha sândalo, como refere A. R. Wallace em 1861.
Em 1901 o governador Celestino da Silva, grande impulsionador do fomento agrícola da ilha, anuncia medidas enérgicas de contenção da extracção do sândalo em vários distritos, onde fica expressamente proibido o abate de árvores. Em 1911 outro governador, Filomeno da Câmara, publicou severa legislação contrariando o abate de árvores mas a impossibilidade de fiscalização levou a que continuasse paulatinamente, até que em 1925 o governador Raymundo Meira proíbe o corte de sândalo em toda a ilha.
Ruy Cinatti fornece-nos a série cronológica do peso total em toneladas (pau e raiz) de sândalo branco exportado de 1910 a 1924:
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