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BOLETIM DO NCH
Nº 16, 2007

Tectónica e sismicidade na ilha do Faial e o sismo de 9 de julho de 1998
José Madeira & António Brum da Silveira

Madeira, J. & Brum da Silveira, A. (2007), Tectónica e sismicidade na ilha do Faial e o sismo de 9 de Julho de 1998. Boletim do Núcleo Cultural da Horta,16: 61-79.

Sumário<
Summary..
Introdução..
Enquadramento Tectónico do Arquipélago..
Neotectónica na ilha do Faial..
Paleossismmicidade..
O sismo de 1998 e os seus efeitos na ilha do Faial..
Conclusões..
Bibliografia

Paleossismmicidade

Estudos de paleossismologia (1) efectuados em diversas trincheiras permitiram estimativas complementares das taxas de deslizamento (2) das falhas principais, bem como de períodos de retorno (3) de sismos com rotura superficial (Madeira, 1998; Madeira & Brum da Silveira, 2003); estes valores, apresentados na Tabela II, foram obtidos com base em datações de radiocarbono efectuadas em depósitos vulcânicos, paleossolos e coluviões (Madeira et al., 1995; Madeira, 1998). O estudo das trincheiras e de cortes naturais permitiu, também, calcular a magnitude de paleossismos, e consequentemente estimar o sismo máximo, para diferentes falhas da ilha do Faial (Tabela III), com base na medição de deslocamentos superficiais produzidos por evento de rotura (valores observados entre os 6 cm e 2 m) e utilizando a correlação M = 6,69 + 0,74log(MD) entre deslocamento superficial máximo (MD) e magnitude de momento sísmico (M) de Wells & Coppersmith (1994). Os valores de magnitude de momento sísmico estimados situam-se entre Mw=5,8 e Mw=7,0. A comparação entre as magnitudes estimadas com base no deslocamento por evento sísmico com rotura superficial e na área de rotura (AR) ([M=4,07+0,98log(AR)]; Wells & Coppersmith, 1994), calculada a partir do comprimento mínimo de rotura superficial observado em cada falha e de uma espessura de crosta sismogé­nica de 10 km (M=5,1 a 6,5), revela valores mais elevados de magnitude máxima no caso das estimativas ba­seadas no deslocamento superficial por evento. Esta diferença pode resultar de um ou de ambos os seguintes factores. Um é o desconhecimento da espessura da crosta sismogénica, que é muito variável no arquipélago (provavelmente oscilando entre 14 e 7 km; Hirn et al., 1980; Luís et al., 1998). Também o desconhecimento dos comprimentos totais de rotura nas falhas analisadas, uma vez que a maioria tem parte da sua extensão submersa ou está parcialmente coberta por depósitos vulcânicos muito recentes, pode levar a valores de magnitude subestimados. Por exemplo, as falhas da Espalamaca, Lomba do Meio e Capelo poderão constituir segmentos de um mesmo acidente cuja extensão total (emersa e submersa) poderá ultrapassar 35 km; deste modo, admitindo rotura total da falha, a magnitude estimada com base na extensão da rotura superficial (M=6,6) será bastante mais próxima dos valores estimados com base nos deslocamentos observados na Falha da Espalamaca e na Falha da Lomba do Meio, M = 7,0.

Notas
(1) Paleossismologia é o ramo da geologia que estuda o registo geológico de sismos antigos (pré-históricos), utilizando técnicas específicas que passam normalmente pela abertura de valas ou trincheiras que cruzam o plano de falha e pela datação dos depósitos deslocados ou formados na sequência de um sismo.

(2) Taxa de deslizamento é o valor médio anual do deslocamento uma falha expresso em cm ou mm por ano: na maioria das falhas o deslocamento ocorre durante um sismo, mantendo-se estática durante o intervalo entre sismos.

(3) Período de retorno é o intervalo médio entre sismos de uma determinada magnitude; quando este parâmetro é determinado a partir de estudos de paleossismologia utilizam-se os intervalos entre sismos que produziram rotura superficial. ou seja, em que a falha rompeu até à superfície topográfica deslocando-a e produzindo uma escarpa.