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BOLETIM DO NCH
Nº 16, 2007

Tectónica e sismicidade na ilha do Faial e o sismo de 9 de julho de 1998
José Madeira & António Brum da Silveira

Madeira, J. & Brum da Silveira, A. (2007), Tectónica e sismicidade na ilha do Faial e o sismo de 9 de Julho de 1998. Boletim do Núcleo Cultural da Horta,16: 61-79.

Sumário<
Summary..
Introdução..
Enquadramento Tectónico do Arquipélago..
Neotectónica na ilha do Faial..
Paleossismmicidade..
O sismo de 1998 e os seus efeitos na ilha do Faial..
Conclusões..
Bibliografia

Enquadramento Tectónico do Arquipélago

Os Açores localizam-se na região onde ocorre a junção tripla entre três placas tectónicas: as placas Americana, Eurasiática e Africana. As ilhas do Grupo Ocidental, Flores e Corvo, foram edificadas sobre a placa Norte-Americana, a qual é limitada a Este pelo vale central (rifte) da Crista Média Atlântica. Para oriente desta fronteira situam-se as placas da Eurásia e África, separadas pela Falha Açores-Gibraltar (veja-se também Madeira, 2007, neste volume). As ilhas dos grupos Central e Oriental localizam-se sobre uma faixa que corresponde ao segmento açoriano daquela fronteira de placas. Trata-se de uma estrutura que se estende do ponto triplo dos Açores, sensivelmente a meia distância entre o Faial e as Flores, até algumas dezenas de quilómetros a oriente de Santa Maria. Este sector da fronteira de placas acomoda o movimento diferencial resultante da diferença das taxas de expansão crustal a norte e a sul do ponto triplo. Assim, como a taxa de expansão é um pouco superior a norte do ponto triplo, a placa Eurasiática desloca-se para Este mais rapidamente que a placa Africana. O movimento relativo é de cerca de 0,3 a 0,5 cm/ano (Madeira, 1998; Madeira & Brum da Silveira, 2003), os quais são acomodados no vasto conjunto de falhas que recorta a Plataforma dos Açores. Como este sector da fronteira de placas é oblíquo à direcção de expansão do fundo oceânico, a movimentação é também oblíqua, apresentando componentes de desligamento e de abertura. A este regime tectónico dá-se o nome de transtensão.

A sismicidade no arquipélago pode ter origem tectónica ou vulcânica: a que se relaciona com actividade vulcânica é desencadeada pela movimentação dos produtos magmáticos (magma e gases) e consequente fracturação da rocha encaixante, enquanto que a de natureza tectónica resulta da libertação súbita de tensões acumuladas na porção frágil da litosfera. Distinguem-se três tipos de sequências sísmicas: as que resultam de actividade vulcânica correspondem a crises sísmicas mais ou menos prolongadas durante as quais é comum a ocorrência de tremor vulcânico (sismos de longa duração e baixa frequência); as sequências de natureza tectónica que são caracterizadas por um sismo principal ao qual se segue uma sequência sísmica em frequência e magnitudes decrescentes; e as crises de natureza tectónica em que o sismo ou sismos principais se verificam após (por vezes muitos dias depois) o início de um enxame sísmico.

Desde o povoamento do arquipélago ocorreram cerca de trinta sismos ou crises sísmicas teutónicas ou vulcânicas importantes (Tabela 1). Nesta listagem constam os três tipos de sequências sísmicas mencionadas. Destes, doze causaram destruição significativa e/ou provocaram vítimas mortais: 1522 (subversão de Vila Franca, S. Miguel; -5.000 mortos), 1547 (Terceira; alguns mortos), 1614 (Lajes, Terceira; 93 mortos); 1757 (S. Jorge; 1045 mortos); 1801 (Terceira; 1 morto em S. Sebastião); 1837 (Guadalupe, Graciosa; 3 mortos); 1852 (S. Miguel; 9 mortos); 1926 (Faial; 8 mortos); 1935 (S. Miguel; 1 morto); 1980 (S. Jorge e Terceira; 54 mortos); 1998 (Faial; 9 mortos). A esta lista acrescente-se o sismo da Terceira de 1841 que apenas não causou numerosas mortes porque o sismo principal se deu no decurso de uma crise; este facto fez com que a população abandonasse as habitações antes do sismo maior ocorrer (Costa Júnior, 1983 [1841]).

Frequentemente, a destruição e o número de vítimas são consequência de efeitos secundários (como escorregamentos e quebradas) resultantes de especificidades topográficas locais, ou da vulnerabilidade do edificado (parque habitacional sem resistência sísmica e/ou fragilizado por sismos anteriores), e não da magnitude do sismo e da intensidade com que este se faz sentir. Outras circunstâncias, como a hora do dia, podem, igualmente, ter consequências no número de feridos e mortos.