quase sempre estou cega
não
não me iludo
o que aparece quando escrevo
é uma sombra de acenos distantes
cores que se vão formando no meu sangue
árvores carregadas de frutos ou imagens
que os olhos trouxeram de longe
quase sempre estou cega,
a minha bagagem é o nulo.
vozes muitas vozes
mais além as aves que voavam
acalentam este meu coração cansado.
de tanto se amarem morreram também.
não posso crer em nada
inútil o meu desespero de não tocar
a palavra capaz de destruir o silêncio
gerador do poema
inútil.
se um dia me virem chorar
é porque a encontrei.
maria azenha
2006,out,17 |