MARIA ESTELA GUEDES A poesia na óptica da Óptica |
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À pergunta: Que significa 'vermelho', 'azul', 'preto', 'branco'?, podemos apontar imediatamente para coisas com essas cores, - mas é tudo o que podemos fazer: a nossa capacidade para explicar o seu significado não vai mais longe. |
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Nota de abertura | |||
Felizmente existe a Internet, que nos permite tomar conhecimento das obras portuguesas que saem fora de Portugal, e comprá-las. O el poema contínuo, de Herberto Helder (1), demorou uns 3 ou 4 dias úteis a chegar-me às mãos, depois de o ter adquirido em linha. É uma súmula da Poesia Toda, já editada com o título de Ou o poema contínuo. Pouco tem de muito novo à excepção do poema final, que se transcreve mais adiante na versão castelhana. Porém é importante a obra para mim, porque poderei fundar nela exemplos poéticos que tenciono levar em Agosto ao Peru, ao Primer Encuentro Internacional de Literatura Portuguesa, organizado por Reinhard Huamán Mori, sob a chancela da revista de literatura, Ginebra Magnolia. Se os poemas não estivessem traduzidos para castelhano, e com beleza igual à dos escritos na nossa língua, seria mais difícil a divulgação na América Latina. O tradutor é Jesús Munárriz, que assina igualmente uma nota final, muito curta mas suficiente, necessária e eloquente. A menos que se trate de algo que escapou à correcção do autor, pareceu-me que a versão portuguesa desta edição bilingue revela inclinação para a ortografia brasileira, no uso do acento circunflexo em vez do agudo (atônito/atónito). Não tive oportunidade ainda de ver se há outras variantes. Será uma pequena concessão aos nossos amigos do Brasil, que mereciam o estabelecimento de pontes mais fortes e duradouras do que a ortografia, mas enfim, também contribuem para facilitar a passagem da obra de Herberto Helder para lusófonos de quadrantes longínquos. Posta esta nota preliminar, que visa apenas justificar perante os portugueses a minha opção neste ensaio pelas traduções em castelhano de Jesús Munárriz, entro por dentro do livro herbertiano com o de Wittgenstein sobre as cores (2), para começar por dizer que parte substancial do cromatismo do "poema único" decorre do recurso àquilo a que o filósofo chama cores de profundidade, como o coral, por oposição a cores de superfície, como o dourado, que se vê logo ser uma pincelada de anilina ou de pompa barroca sobre um objecto, ao passo que o coral, mais do que objecto, é o próprio exosqueleto animal. Foram dois exemplos. O terceiro é o do sangue, a palavra mais frequente com valência de cor. |
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(1) Herberto Helder, O el poema contínuo. Madrid, Ediciones Hiperión, 2006. Trad. de Jesús Munárriz. Edición bilingüe. (2) Ludwig Wittgenstein, Anotações sobre as cores. Edição bilingue. Tradução de Filipe Nogueira e Maria João Freitas, revista por Artur Morão. Lisboa, Edições 70, 1987. |
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