Deitei-me a noite toda e dormi muito mal.
Tive pesadelos nos quais via tubarões gigantes me atacando.
Acordei às quatro da
manhã com o chamado do criado, exclusivamente à minha disposição sob as
ordens de seu comandante.
Levantei-me, vesti-me e fui para o salão.
O capitão Nemo já me aguardava e conduziu-me imediatamente à escada
central, cujos degraus vinham até a plataforma. Ali estavam Ned Land e
Conselho, satisfeitos por tomarem parte naquela excursão. Cinco
marinheiros do Nautilus ocupavam seus postos no escaler, atracado ao
Nautilus.
Era noite ainda. O capitão Nemo,
Conselho, Ned Land e eu ficamos na popa do barco: o timoneiro permaneceu
em seu lugar; seus quatros companheiros revezavam-se nos remos; foram
retiradas as amarras e desatracamos.
O barco dirigiu-se para o sul. Todos
seguiam em silêncio. Transcorrida uma hora e meia, os primeiros clarões no
horizonte mostraram com maior precisão o perfil da ostra. O barco seguiu
até a ilha Manar, ao sul. Ali ancoramos.
- Já chegamos, sr. Aronnax - disse então
o capitão Nemo depois de dar as ordens necessárias a seus marinheiros.
Essa baía está protegida contra os piores temporais e suas águas nunca
ficam revoltas, o que favorece o trabalho dos mergulhadores. Vamos agora
vestir os escafandros e começar o nosso passeio.
Assim o fizemos, bem como Ned e Conselho.
Os marinheiros ficaram esperando a nossa volta entregues à pesca ou
dormindo. Antes de vestir o capacete metálico, perguntei ao capitão Nemo:
- Não levamos armas?
- Não precisamos delas para nada -
respondeu o capitão. - Eis aqui uma lâmina de ótima têmpera. Ponha-a na
cintura e partamos.
Olhei meus companheiros. Levavam o
mesmo armamento e Ned Land brandia um grande arpão. Pouco depois os
marinheiros nos desembarcaram e a um metro e meio abaixo da superfície
tomávamos pé, em um terreno arenoso. O capitão nos fez um sinal com a mão,
e nós o seguimos desaparecendo sob as ondas por um declive.
Fomos descendo até que nossos pés tocaram
o fundo de uma espécie de poço circular. Ali o capitão Nemo parou e nos
indicou com um gesto um vulto do qual não havia reparado. Era uma concha
muito grande, do tamanho de uma pia. Cheguei perto do enorme molusco.
Calculei o seu peso em mais ou menos trezentos quilos de carne. Tal ostra
podia conter cerca de quinze quilos de carne. As duas valvas do molusco
estavam entreabertas e o capitão Nemo introduziu sua faca entre as
conchas, para impedir que se fechassem. Depois, com a mão, levantou a
túnica membranosa. Ali, entre as dobras, vi uma pérola livre, do tamanho
de um coco. Era uma jóia de valor inestimável e não pude resistir à
tentação de estender o braço para apanhá-la; porém, o capitão Nemo me
impediu, fez um sinal negativo e, retirando sua faca, deixou que as valvas
se fechassem de repente.
Então entendi que a intenção do capitão
era deixar que a pérola continuasse a crescer, pois a cada ano, a secreção
do molusco acrescentaria-lhe novas camadas concêntricas. Somente ele
conhecia a gruta e cultivava o molusco, a fim de transportá-lo algum dia
ao museu do Nautilus. |