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OS LIVROS DA WALKYRIA
JÚLIO VERNE
VINTE MIL LÉGUAS SUBMARINAS

CAPITULO III
Uma Pérola Extraordinária

 

Deitei-me a noite toda e dormi muito mal. Tive pesadelos nos quais via tubarões gigantes me atacando.

Acordei às quatro da manhã com o chamado do criado, exclusivamente à minha disposição sob as ordens de seu comandante.

Levantei-me, vesti-me e fui para o salão. O capitão Nemo já me aguardava e conduziu-me imediatamente à escada central, cujos degraus vinham até a plataforma. Ali estavam Ned Land e Conselho, satisfeitos por tomarem parte naquela excursão. Cinco marinheiros do Nautilus ocupavam seus postos no escaler, atracado ao Nautilus.

Era noite ainda. O capitão Nemo, Conselho, Ned Land e eu ficamos na popa do barco: o timoneiro permaneceu em seu lugar; seus quatros companheiros revezavam-se nos remos; foram retiradas as amarras e desatracamos.

O barco dirigiu-se para o sul. Todos seguiam em silêncio. Transcorrida uma hora e meia, os primeiros clarões no horizonte mostraram com maior precisão o perfil da ostra. O barco seguiu até a ilha Manar, ao sul. Ali ancoramos.

- Já chegamos, sr. Aronnax - disse então o capitão Nemo depois de dar as ordens necessárias a seus marinheiros. Essa baía está protegida contra os piores temporais e suas águas nunca ficam revoltas, o que favorece o trabalho dos mergulhadores. Vamos agora vestir os escafandros e começar o nosso passeio.

Assim o fizemos, bem como Ned e Conselho. Os marinheiros ficaram esperando a nossa volta entregues à pesca ou dormindo. Antes de vestir o capacete metálico, perguntei ao capitão Nemo:

- Não levamos armas?

- Não precisamos delas para nada - respondeu o capitão. - Eis aqui uma lâmina de ótima têmpera. Ponha-a na cintura e partamos.

Olhei meus companheiros. Levavam o mesmo armamento e Ned Land brandia um grande arpão. Pouco depois os marinheiros nos desembarcaram e a um metro e meio abaixo da superfície tomávamos pé, em um terreno arenoso. O capitão nos fez um sinal com a mão, e nós o seguimos desaparecendo sob as ondas por um declive.

Fomos descendo até que nossos pés tocaram o fundo de uma espécie de poço circular. Ali o capitão Nemo parou e nos indicou com um gesto um vulto do qual não havia reparado. Era uma concha muito grande, do tamanho de uma pia. Cheguei perto do enorme molusco. Calculei o seu peso em mais ou menos trezentos quilos de carne. Tal ostra podia conter cerca de quinze quilos de carne. As duas valvas do molusco estavam entreabertas e o capitão Nemo introduziu sua faca entre as conchas, para impedir que se fechassem. Depois, com a mão, levantou a túnica membranosa. Ali, entre as dobras, vi uma pérola livre, do tamanho de um coco. Era uma jóia de valor inestimável e não pude resistir à tentação de estender o braço para apanhá-la; porém, o capitão Nemo me impediu, fez um sinal negativo e, retirando sua faca, deixou que as valvas se fechassem de repente.

Então entendi que a intenção do capitão era deixar que a pérola continuasse a crescer, pois a cada ano, a secreção do molusco acrescentaria-lhe novas camadas concêntricas. Somente ele conhecia a gruta e cultivava o molusco, a fim de transportá-lo algum dia ao museu do Nautilus.