Estava na biblioteca, folheando vários
livros e tomando notas, quando entraram o capitão Nemo e seu imediato.
- Sr. Aronnax, gostaria de visitar os
pesqueiros de pérolas do Ceilão? - perguntou-me o capitão Nemo.
- Com muito prazer, capitão.
- Pois darei ordem de rumar para o golfo
de Manar, onde chegaremos à noite. Lembre-se de que veremos apenas os
pesqueiros, e não os pescadores.
O capitão deu algumas ordens em voz baixa
a seu imediato, e este se afastou.
- Doutor - disse então o capitão Nemo -,
pescam-se pérolas no golfo de Bengala, no mar das Índias, da China e do
Japão, no golfo da Califórnia e em outros lugares, mas é no Ceilão que
essa pesca proporciona melhores resultados. Os pescadores se reúnem no
golfo de Manar no mês de março, e durante todo o mês se dedicam a essa
lucrativa exploração. Cada embarcação é tripulada por dez remadores e dez
pescadores, divididos em dois grupos, que se submergem alternadamente e
descem a uma profundidade de doze metros, utilizando uma pedra pesada que
prendem entre os pés e é unida à embarcação por meio de uma corda.
- Então, usam esse antigo processo? -
exclamei surpreso.
- Sim, professor. Ainda usam esse
processo, apesar de esses pesqueiros pertencerem ao povo mais adiantado do
mundo, os ingleses.
- Pois acho que o escafandro prestaria um
grande serviço nessa tarefa. O senhor não pensa assim?
- Não há dúvida, professor. Porém, com o
método antigo, os proprietários lucram mais. Sabe quanto ganham esses
pobres pescadores que arriscam a vida e que nunca chegam a ficar velhos?
Recebem cinco centavos por concha que contenha uma pérola, e são tantas as
que se encontram vazias!
- Mas, isso é um absurdo - respondi. -
Cinco centavos para essa pobre gente que enriquece seus patrões!... Não
entendo...
- Pois é assim mesmo, professor. Isso é a
civilização. A propósito, sr. Aronnax - disse o capitão mudando de
assunto. - O senhor tem medo de tubarões?
- Confesso-lhe, capitão, que não estou
muito familiarizado com eles. Não saberia o que dizer.
- Nós estamos acostumados com eles -
respondeu o capitão -, e com o passar do tempo o senhor também se
habituará. Nessa visita aos pesqueiros iremos armados, pois talvez
tenhamos oportunidade de caçar algum tubarão. Até amanhã, professor, e
procure estar pronto bem cedo.
E dizendo isto, o capitão Nemo saiu do
salão. Estava disposto a acompanhar o capitão Nemo naquela visita, embora
pudéssemos encontrar tubarões, mas receava que meus companheiros não
compartilhassem a mesma opinião. Era uma caçada arriscada.