Como vimos, a vida do
capitão Nemo transcorria inteiramente em meio àquele mar imenso. Os
tripulantes tinham garantido até os seus túmulos no mais impenetrável os
abismos, onde nenhum monstro perturbaria o último sono deles.
Meu fiel criado
pensava que o capitão Nemo fosse um desses sábios desconhecidos que
desprezavam a humanidade. Porém, não compartilhava a mesma opinião.
Havia algo mais que eu ignorava em toda aquela vida submarina. De fato,
o mistério da última noite em que ficamos encarcerados em uma cela,
parecia-me estranho e incompreensível e fazia-me duvidar das boas
intenções do comandante do Nautilus. Achava que o capitão Nemo não
estava apenas evitando os homens!
Durante vários dias
vimos grande quantidade de aves aquáticas, palmípedes e gaivotas, que
foram caçadas com destreza, e depois de preparadas transformaram-se em
um prato bastante apreciado. Por sua vez, as redes do Nautilus pescaram
vários tipos de tartarugas marinhas, do gênero Careta, de dorso
curvo e cujo casco é muito apreciado.
Na manhã do dia 24,
passamos pela ilha Keeling e, a seguir, derivamos até o noroeste, em
direção ao ponto extremo da península índica. Aproveitando esta
oportunidade, Ned Land tornou a propor-me a fuga. De acordo com ele, em
terra encontraríamos meios para voltar à nossa pátria. Tornei a
pedir-lhe que tivesse paciência, pois o Nautilus rumava para a Europa e
aí tudo seria mais fácil. O arpoador aceitou minha sugestão sem nada
dizer. Mas acho que, de fato, não concordava muito com o meu modo de
pensar.
A partir de Keeling,
nossa viagem foi muito lenta, embora variada, levando-nos, às vezes, a
grandes profundidades. Adentramos até dois ou quilômetros, porém sem
nunca verificar o fundo do oceano Índico, não alcançado por sondes de
treze quilômetros.
No dia 25 de janeiro,
o Nautilus passou o dia todo na superfície, agitando as ondas com sua
potente hélice e fazendo a água saltar a grande altura. Permaneci sobre
a plataforma, a maior parte do dia, contemplando o mar. De repente,
fiquei surpreso ao avistar um navio a vapor na direção oeste, oposta à
nossa. Nada pude fazer para chamar a sua atenção, pois ele não poderia
ter avistado o Nautilus, que flutuava quase ao nível do mar. Não disse
nada a Ned Land, pois em sua ânsia de fugir, teria sido capaz de
lançar-se às águas, para alcançar o navio.
No dia 26 de janeiro,
atravessamos o Equador na altura do meridiano oitenta e dois, e entramos
no hemisfério boreal. Durante o dia todo, fomos escoltados por um grande
cardume de tubarões, que infestam aqueles mares e os tornam muito
perigosos. Houve momentos em que esses predadores se atiraram contra os
visores do submarino com grande violência. Ned Land queria sair até a
superfície e arpoar esses monstros, que pareciam provocá-lo.
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