Tal como havia dito o capitão Nemo, a maré
fez o Nautilus subir à superfície e permitiu reiniciar a navegação através
dos mares. No dia 10 de janeiro, o navio prosseguiu sua tragetória com uma
velocidade não inferior a trinta e cinco milhas por hora. Três dias depois
chegamos ao mar de Timor e avistamos a ilha de mesmo nome. A seguir,
contornamos os baixios de Cartier, Hibernia, Seringapatam e de Scott.
Passou-se uma semana sem novidade. Porém,
certo dia, quando estava na coberta do navio, vi na minha frente o capitão
Nemo, a quem me custou reconhecer. Seu corpo rígido, seus punhos fechados
e a cabeça erguida denotavam a ira de que se achava possuído. Receei ter
sido a causa de sua cólera. Será que ele pensava que nós havíamos
descoberto algum segredo do Nautilus?
Finalmente, o capitão se refez. Sua
fisionomia recobrou a calma habitual. Deu algumas ordens ao imediato, em
sua linguagem misteriosa, e voltou-se para mim:
- Sr. Aronnax - disse em tom imperioso -,
preciso exigir o cumprimento de um dos compromissos que contraiu comigo.
- Não sei a que se refere, capitão - retoqui.
- É preciso que se deixe encerrar naquela
cela com seus companheiros, até o momento em que julgar conveniente
restituir-lhes a liberdade.
- O senhor é o capitão, porém posso
fazer-lhe uma pergunta?
- Não, senhor. Não tenho tempo para ouvi-lo.
E com esta resposta categórica, despediu-se
sem deixar-me esclarecida aquela estranha ordem que tanto nos prejudicava.
Desci ao camarote onde se achavam Ned e
Conselho e contei-lhes o sucedido. Ao cabo de quinze minutos, quatro
tripulantes aguardavam na porta para cumprir as ordens do capitão Nemo.
Não opusemos resistência e fomos conduzidos para a mesma cela em que
passáramos a nossa primeira noite a bordo do Nautilus.
Ned Land estava furioso, enquanto Conselho,
como de costume, aceitava tudo com calma. Seja como for, Ned se acalmou um
pouco quando nos serviram o almoço. Pelo menos não íamos morrer de fome.