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OS LIVROS DA WALKYRIA
JÚLIO VERNE
VINTE MIL LÉGUAS SUBMARINAS
CAPITULO XVII
O Estreito de Torres
 

Durante a passagem da noite de 27 para 28 de dezembro, o Nautilus afastou-se de Vanikoro, com uma velocidade vertiginosa. Ao clarear do dia de 1 de janeiro de 1868, Conselho desejou-me um feliz Ano-Novo, como se estivéssemos em Paris, em minha sala de trabalho no Museu.

No dia 4 de janeiro, depois de haver atravessado o mar de Coral, avistamos as costas da Papuásia. Então, o capitão Nemo disse-me que tencionava velejar em direção ao oceano Índico, através do estreito de Torres. Esse estreito é considerado perigoso, tanto em razão de seus numerosos recifes, como também em virtude da ferocidade de seus habitantes selvagens. Ele separa as Índias Holandesas da Papuásia, também chamada Nova Guiné. O território da Papuásia foi descoberto pelos português Francisco Serrano em 1511 e foi visitado sucessivamente por outros navegadores, entre eles José Meneses, Grijalba, Álvaro de Saavedra, Tasman, Dampier, Bougainville, Cook e Dumont d'Urville.

O estreito de Torres mede cerca de trinta e quatro léguas de largura, porém está obstruído  por uma grande quantidade de ilhas, ilhotas e baixios, que tornam quase impossível a navegação. Por isso, o capitão Nemo tomou todas as precauções para atravessá-lo. De fato, a situação era perigosa, mas navegávamos tranqüilamente. Eram três horas da tarde quando, inesperadamente, uma colisão arremessou-me ao chão. Apesar de toda a perícia da tripulação, o Nautilus acabava de se chocar contra um rochedo e permanecia imóvel, um pouco inclinado para bombordo. Vi o capitão Nemo na plataforma dando ordens a seu imediato. Cheguei perto dele e perguntei:

- Houve algum acidente?

- Não, sr. Aronnax. Apenas um incidente sem importância. Porém, um incidente que talvez o obrigue a tornar-se um morador dessas terras, que o senhor tanto evita.

O capitão Nemo encarou-me como querendo ler meus pensamentos e depois me disse:

- Se o senhor pensa que o Nautilus está perdido, engana-se. Ainda poderá ver muitas maravilhas por meio dele. Nossa viagem está apenas no começo e não quer perder o prazer de sua companhia. E sem dizer mais nada, o capitão Nemo deu-me as costas e voltou para o interior da embarcação. Logo depois Conselho e Ned apareceram.

- O que está acontecendo, sr. Aronnax? - pergunto Ned Land.

- Nada, amigo Land. Segundo o capitão, teremos esperar que a maré do dia 9 nos ponha outra vez flutuando.

- Não acredite nisso, professor. Este traste não voltará a navegar nem em cima nem embaixo d'água. Acho que chegou o momento de pensarmos em sair daqui.

- Amigo Ned, você deve ter paciência mais uma vez. Dentro de quatro dias saberemos se o capitão está certo. De qualquer forma, o conselho de fugir poderia ser oportuno se estivéssemos perto das costas da Inglaterra ou de Provença, porém nestas paragens da Papuásia, é totalmente insensato pensar nisso.