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::::::::::::::::::Valéria Andrade::::
TEATRO E MILITÂNCIA SUFRAGISTA
NO BRASIL DO SÉCULO XIX

1. O PAPEL DE JOSEFINA ÁLVARES DE AZEVEDO (1)

Texto...
Notas

(1) O presente artigo tem como ponto de partida nossas pesquisas realizadas desde 1993, com a proposta de reconstituir a trajetória literária e intelectual da escritora Josefina Álvares de Azevedo, que resultaram, num primeiro momento, na dissertação de mestrado O florete e a máscara: Josefina Álvares de Azevedo, dramaturga do século XIX, publicada pela Editora Mulheres (Florianópolis, SC – Brasil), em 2001.

(2) Sobre estas e outras pioneiras do pensamento feminista e da literatura no Brasil, ver especialmente BERNARDES, Maria Thereza Caiuby Crescenti. Mulheres de ontem? São Paulo: T. A. Queiroz, 1989; MUZART, Zahidé Lupinacci (org.). Escritoras brasileiras do século XIX: antologia. Florianópolis: Mulheres/Edunisc, 1999 (vol. I); 2004 (vol. II); SCHUMAHER, Schuma e VITAL BRAZIL Érico (orgs.) Dicionário Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000; SOUTO-MAIOR, Valé ria Andrade. Entre/ linhas e máscaras: a formação da dramaturgia brasileira de autoria feminina no Brasil do século XIX. 2001. Tese (Doutorado em Letras). Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, Paraíba. ; HAHNER, June E. Emancipação do sexo feminino: a luta pelos direitos da mulher no Brasil, 1850-1940. Florianópolis: Mulheres/Edunisc, 2003.

(3) Para um estudo circunstanciado sobre a autora, cf. DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta: vida e obra. Natal: Ed. UFRN, 1995.

(4) BLAKE, Augusto V. Alves Sacramento. Diccionario bibliographico brazileiro. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 1883-1902. v. 5, p. 237-8.

(5) Para uma abordagem pormenorizada desse ‘quebra-cabeça’ por montar que é o percurso da vida de Josefina Álvares de Azevedo, cf. SOUTO-MAIOR, Valéria Andrade. O florete e a máscara: Josefina Álvares de Azevedo, dramaturga do século XIX. Florianópolis: Mulheres, 2001, p. 39-81.

(6) VIDAL, [Olmio de] Barros. Precursoras brasileiras. Rio de Janeiro: A noite, [1944], p. 162. O autor, infelizmente, não informa sequer o título do livro a que se refere.

(7) AZEVEDO, Josephina Álvares. Galleria illustre ( Mulheres celebres). Rio de Janeiro: A Vapor, 1897.

(8) Cf. [ALMEIDA, Presciliana Duarte de.] A Mensageira, São Paulo, p. 240, 15 maio, 1898.

(9) AZEVEDO, Josephina Alvares de A mulher moderna: trabalhos de propaganda. Rio de Janeiro: Montenegro, 1891, p. 133.

(10) [AZEVEDO, Josephina Alvares de]. A Família, Rio de Janeiro, 23 fev. 1889, p. 1.

(11) Franqueando “ suas colunas a todas as senhoras que a queiram honrar com a sua colaboração”, A Família distinguia-se dos jornais editados por mulheres na segunda metade do século XIX no Brasil, que eram, em geral, abertos à colaboração de pessoas de ambos os sexos, cf. BICALHO, Maria Fernanda Baptista. O Bello Sexo: imprensa e identidade feminina no Rio de Janeiro em fins do século XIX e início do XX. 1988. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social). Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ.

(12) A esse respeito, ver BERNARDES, op. cit., p. 118-121 e SOARES, Pedro Maia. Feminismo no Rio Grande do Sul: primeiros apontamentos (1835-1945). BRUSCHINI, Maria Cristina e ROSEMBERG, Fúlvia (orgs.). Vivência: história, sexualidade e imagens femininas. São Paulo: Brasiliense, 1980, p. 145-6. Há, neste sentido, um interessante artigo de Eugénie Potonié Pierre, que foi traduzido por Josefina Álvares de Azevedo e publicado na revistaA Mensageira, em 1899, no qual sua autora convida as mulheres a se unirem não apenas para proveito próprio, mas para benefício e renovação de toda a sociedade; cf.PIERRE, [Eugénie] Potonié. A solidariedade feminina. Trad. Josephina Alvares de Azevedo. A Mensageira, São Paulo, p. 206-8, 15 dez. 1899.

(13) A expressão é de SOARES, op. cit., p. 146, em relação ao jornalCorimbo, editado por Revocata de Melo no Rio Grande do Sul.

(14) Ao contrário de A Família, parte dos periódicos femininos surgidos nessa época, como a citada revistaA Mensageira, privilegiava a veiculação dessa produção literária, dedicando-se secundariamente às questões relativas à condição da mulher; cf. PAIXÃO, Sylvia. A fala-a-menos: a repressão do desejo na poesia feminina. Rio de Janeiro: Numen, 1991, p. 38.

(15) AZEVEDO, Josephina Alvares de. A Família, Rio de Janeiro, 30 jan. 1890, p. 1.

(16) Idem. Ibid., p. 1, 27 fev. 1890.

(17) Idem. Carnet de voyage. A Família, Rio de Janeiro, 30 nov. 1889, p. 2; 7 dez. 1889, p. 2; 14 dez. 1889, p. 2; 21 dez. 1889, p. 6. No início desse mesmo ano, ainda residindo em São Paulo, Josefina anuncia uma viagem ao Norte do país, para observar o sistema de educação aplicado às meninas, informando que, com objetivo idêntico, visitaria também Lisboa, Paris, Espanha, Estados Unidos e Argentina; cf. [AZEVEDO, Josephina Alvares de.] Novidades. A Família, 19 jan. 1889, p. 8.

(18) AZEVEDO, Josephina de. A Família, Rio de Janeiro, 30 nov. 1889, p. 1; 19 abr. 1890, p. 1.

(19) [ Idem]. O direito de voto. A Família, Rio de Janeiro, 21 dez. 1889, p. 1; 30 nov. 1889, p. 1.

(20) Até agora não localizamos nenhum exemplar desse opúsculo. A maior parte das informações sobre essa publicação foi recolhida nas notas de agradecimento publicadas nos vários jornais que a receberam e transcritas por Josefina em sua folha; cf. (AZEVEDO, Josephina Alvares de). Como nos tratam. A Família, Rio de Janeiro, 20 fev. 1890, p. 7-8; 9 mar. 1890, p. 7-8; 16 mar. 1890, p. 8; 23 mar. 1890, p. 8; 14 jun. 1890, p. 3; AZEVEDO, Josephina de. O Apóstolo. A Família, Rio de Janeiro, 3 maio 1890, p. 6.

(21) AZEVEDO, Josephina Alvares de. A doutora. A Família, Rio de Janeiro, 9 nov. 1889, p. 4.

(22) [AZEVEDO, Josephina Alvares de]. Como nos tratam. A Família, Rio de Janeiro, 14 jun. 1890, p. 3.

(23) Cf. FARIA, João Roberto. O teatro realista no Brasil: 1855-1865. São Paulo: Perspectiva, 1993. O processo de formação da tradição de autoria feminina brasileira no campo da dramaturgia, desencadeado neste período, teve como figura central a dramaturga Maria Angélica Ribeiro (1829-1880); cf. SOUTO-MAIOR, Valéria Andrade. Entre/ linhas e máscaras: a formação da dramaturgia brasileira de autoria feminina no Brasil do século XIX. 2001. Tese (Doutorado em Letras). Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, Paraíba.

(24) [ Idem]. Teatros. A Família, Rio de Janeiro, 17 maio 1890, p. 3-4; 24 maio 1890, p. 3.

(25) [AZEVEDO, Josephina Alvares de]. O direito de voto. A Família, Rio de Janeiro, 19 abr. 1890, p. 1; [ Idem]. Ainda o nosso direito. A Família, Rio de Janeiro, 26 abr. 1890, p. 1.

(26) AZEVEDO, Josephina Alvares de. O voto feminino. In: _____. A mulher moderna, p. 72.

(27) Cf. BLAKE, op. cit., v. 5, p. 238. Até agora, no entanto, nenhum exemplar desse livro foi localizado. Em A Família, curiosamente nada se registra a respeito desta publicação de O voto feminino.

(28) AZEVEDO, A mulher moderna.

(29) Encarregado de fazer com que se conheça, através de seus comentários, uma visão ‘ objetiva’ ou ‘autoral’ da situação, o raisonneur representa a moral ou o raciocínio adequado. Não ocupando nunca o lugar de protagonista, essa personagem é uma figura marginal e neutra, que dá sua opinião abalizada, tentando uma síntese ou uma reconciliação dos pontos de vista e, muitas vezes, é considerado porta-voz do/a autor/a. Herdeiro do coro trágico grego, o raisonneur aparece sobretudo na época clássica, no teatro de tese e nas formas de peças didáticas; cf. PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. Trad. J. Guinsburg e Maria L. Pereira. São Paulo: Perspectiva, 1999, p. 323.

(30) Ao criar esta personagem, a autora inspirou-se, provavelmente, no médico e jornalista José Lopes da Silva Trovão (1848-1925), deputado pelo Distrito Federal no Congresso Constituinte, que apresentou emenda concedendo o direito de voto às mulheres. Ver HAHNER, June E. A mulher brasileira e suas lutas sociais e políticas (1850-1937). São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 87. Em seus artigos da sérieO voto feminino, Josefina refere-se a “ opiniões respeitáveis” a favor do voto feminino na imprensa, mas não o cita nominalmente, como fizera meses antes, conclamando suas contemporâneas a trabalharem pela eleição de um candidato cuja plataforma incluía o direito eleitoral das mulheres; cf. AZEVEDO, Josephina de. As mulheres e a eleição. A Família, 6 jul. 1889. p. 1; Idem. O direito de voto. A Família. 19 abr. 1890. p. 1.

(31) Umraisonneur típico da comédia realista de inspiração francesa aparece emO crédito (1857), de José de Alencar, na pele do protagonista Rodrigo, cujas preleções infindáveis acerca do papel do dinheiro na sociedade burguesa acabam comprometendo, segundo FARIA, op. cit., 176, a qualidade formal da peça.

(32) AZEVEDO, Josephina Alvares de. A Família, 14 dez. 1889, 21 dez. 1889, 19 abr. 1890. p. 1; 26 abr. 1890. p. 1; 31 maio 1890. p. 1; 11 dez. 1890. p.1.

(33) Sobre a gênese e as realizações do teatro de agitprop, ver GARCIA, Silvana. Teatro da militância: a intenção do popular no engajamento político. São Paulo: Perspectiva/EDUSP, 1990.

(34) Para mais detalhes sobre essa experiência dramatúrgica realizada por Josefina Álvares de Azevedo que antecipa a propostaagitpropista desenvolvida no Brasil, ver SOUTO-MAIOR, Valéria Andrade. A intuição feminista do agitprop no teatro brasileiro em fins do século XIX. Estudos feministas, Rio de Janeiro, IFCS/UFRJ, v. 5, n. 2, p. 275-289, 1997. Uma versão revista deste ensaio encontra-se no capítulo 6 de Entre/ linhas e m áscaras, citado acima.