O que tu então perdeste, Raul!
Eu sei que, se pudesses, lá estarias,
com o teu uniforme de alferes
e o pingalim pela mão, logo manhã.
E saudarias a multidão com o lenço velho,
já não feito numa bola e fechado na mão forte.
Como ainda nos faz falta, Raul, essa mão
ágil e livre onde seguravas, com mestria,
a primeira pena da República.
Sabes, é agora mais fácil passear por Portugal
- as estradas e as estalagens são já outras.
Mas a grande aventura, Raul, seria
descobrir o que resta do país descrito no teu Guia.
Darias abraços em Caxias. E em Peniche, é claro,
pois também lá tiveste amigos seguros (sem ironia)
como o meu avô e o Jaime – a quem não perdoaram
ter vindo do Brasil para ver o seu país
uma última vez, antes de morrer.
Às vezes, imitando o meu avô, também eu uso
uma gravata rubra, mais vermelha que o teu sangue
(aquele que, uma vez, prometeste dar pela República).
É pouco, Raul, eu sei – mas continua a chateá-los…
Escuta ainda, Raul: se puderes ir a Castelo de Vide
não deixes de levar o meu pai
para que, junto da campa do Salgueiro Maia,
lhe voltem a cantar, com voz firme,
o Grândola Vila Morena.
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