JOÃO GARÇÃO..
A importância da Arte
na construção de uma nova sociabilidade

4. O tempo das imagens

O nosso tempo já foi referenciado como sendo o “tempo das imagens”, tão imensa e rápida é a sua difusão e tão grande é a sua influência. Julgo que a denominação “tempo das publi-imagens” (ou “imagens de substituição” ou, ainda, “sucedâneos da Imagem”) será mais correcta porque mais consentânea com este facto, uma vez que frequentemente se procura promover, por razões económicas e de marketing, uma recepção passiva, rápida e quase irreflectida desse tipo de “imagens”, quando não mesmo a anulação da margem reflexiva do receptor, o qual é desta forma mergulhado - e logo diluído - numa massa anónima. Ora, a verdadeira imagem é sempre artística e, nesta conformidade, libertadora. E é libertadora porque expressa a Realidade traduzida em sentimentos e ideias tornados significativos da plenitude da Existência. Por isso mesmo é que uma das características da obra de Arte é a permanência no Tempo, como já referi. Aponta, pois, para a Eternidade - que é a Vida no seu máximo grau. E assim entende-se porque é que uma obra de propaganda ou de publicidade não será Arte autêntica, visto que o seu objectivo tem a ver com o efémero da difusão de uma ideologia ou de um produto. Assinale-se que determinadas mensagens publicitárias entram por vezes no campo da arte; e isto porque os seus autores, na circunstância, não se ficaram pelo utilitarismo estrito da mensagem encomendada.

No que diz respeito ao artista, a verdadeira imagem expressa o seu poder de criação de mundos; quanto ao espectador, há a considerar que ela necessita, para ser descodificada, de tempo, cultivo da sensibilidade e da inteligência, reflexão autónoma e tolerância, como se depreende daquilo que atrás disse. Verifique-se que o bombardeamento dessas tais imagens de substituição a que hoje em dia se submetem os indivíduos, longe de propiciar a capacidade de leitura das Imagens, provoca exactamente o efeito contrário, inibindo-a e distorcendo-a. Potenciais receptores passivos logo desde a infância, o nosso contacto com a Arte é frequentemente dificultado. Há que responder, pois, com um maior dinamismo na criação de instrumentos educacionais e culturais que possibilitem o contrariar desta tendência. As escolas e os educadores desempenham, repito, uma função indispensável no aprofundamento de um válido cenário de salutar sociabilidade, que a Arte incrementa e estimula - tal como o exprimi no decorrer da exposição que efectuei.