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CARLOS DE OLIVEIRA |
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Líquenes I |
Algures,
no lugar
mais frio
da memória,
mas
nítido
como um centímetro
quadrado de neve
que pede
a própria luz
à algidez interior,
surge
a paisagem
de líquenes, |
Líquenes II |
o lento trabalho
da metamorfose
entre a alga
e a campânula
venenosa
do míscaro
[protosponja
que se embebe
nas grutas,
na sombra ácida],
o sono
criptogâmico
incapaz de sonhar
a forma duma flor |
Líquenes III |
mesmo
sobre a nitidez
vitrificada tão
intensamente
pela memória
que parece provir
da infra-infância
o súbito
centímetro quadrado
de neve e luz
onde os líquenes surgem
agora
monomicro-
criptomaníacos, |
Líquenes IV |
meticulosos
na humidade
que fabricam
di
luin
do-se nela,
e ela
por sua vez
segrega-os
devagar
em cada
exalação
[sempre mais
do que eram] |
Líquenes V |
tão semelhante
na escala
deste livro
a respiração [?]
minuciosa
do lodo
produzindo
não flores
mais lodo,
sono também
sem sonho
alastrando
na transparência
da água: |
Líquenes VI |
assim
se cumpre
o eclipse
gradual
sobre o centímetro
quadrado que
os líquenes
cobrem
na memória,
assim
a luz e a neve
se ocultam
pouco a pouco, assim
se esquece. |
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