Contar os grãos de areia destas dunas é o meu ofício actual. Nunca julguei
que fossem tão parecidos, na pequenez imponderável, na cintilação de sal e oiro
que me desgasta os olhos. O inventor de jogos meu amigo veio encontrar-me
quase cego. Entre a névoa radiosa da praia mal o conheci. Falou com a exactidão
de sempre:
“O que lhe falta é um microscópio. Arranje-o depressa, transforme os grãos
imperceptíveis em grandes massas orográficas, em astros, e instale-se num
deles. Analise os vales, as montanhas, aproveite a energia desse fulgor de vidro
esmigalhado para enviar à Terra dados científicos seguros. Escolha depois uma
sombra confortável e espere que os astronautas o acordem.”