Quando parei na bomba de gasolina em obras, à noite,
sem saber se havia alguém para atender, ou se tinha
de voltar para a estrada e parar na seguinte, que não sabia
onde era, nem se a gasolina dava para lá chegar, uma luz
acendeu-se no contentor que tapava a entrada do que
tinha sido um bar e um loja de tabaco e jornais, e alguém
me fez sinal que podia encher o depósito. Na solidão
das noites de Outono não é preciso muita coisa para
descobrir que a existência de alguém pode compensar
o silêncio e o vazio que nos rodeiam; e quando
acabei de meter a gasolina, fui ao contentor onde
um casal me esperava, para receber o dinheiro,
registando o pagamento com a distracção de quem
não precisava que outro alguém tivesse passado ali
para os interromper, procurando o pretexto da gasolina
para descobrir que o amor também pode encher um
contentor, no meio da noite, até alguém chegar.
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