DISCURSO DE CORVO

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João de Andrade Corvo, depois de pedir vénia a Sua Majestade, lê o seguinte discurso (folhas A3, muitas):

Andrade Corvo - Senhores: Chamado pela lei à direcção da Escola Politécnica, cumpre-me antes de tudo agradecer hoje a Sua Majestade El-Rei o Senhor D. Luiz, em nome da mesma Escola, a benignidade com que se dignou honrar com a sua presença esta nossa solenidade anual, destinada a proclamar e recompensar os alunos beneméritos pela sua assiduidade nos estudos, e pela inteligência e zelo com que cumpriram os seus deveres académicos.

Não há satisfação maior para os que exercem a nobre profissão de cultivar e ensinar as ciências, do que vê-las cursadas, com proveito e com amor, pelos mancebos que se preparam, pela elevação das suas faculdades e ilustração do seu espírito, a bem servir a pátria.

Os prémios que estes alcançam, ao passo que os honram, e lhes mostram glorioso o caminho a seguir, enchem de sincero júbilo os seus professores, para quem também é recompensa e prémio ver os frutos das suas lições e dos seus exemplos.

A presença do Augusto Chefe do Estado, que se digna vir por sua mão entregar aos alunos da Escola Politécnica os diplomas dos prémios por eles alcançados no último ano lectivo, multiplica e muito o valor dessas honrosas recompensas.

É como se a nação, no seu mais alto representante, viesse dar aos alunos da Escola Politécnica uma solene prova do apreço em que tem os seus estudos, e da confiança que nutre de que eles hão-de bem servir no futuro os grandes interesses da civilização.

O futuro da nação, senhores, depende em grande parte da mocidade estudiosa: da sua ilustração, do seu amor ao trabalho, da sua elevação intelectual e moral. Vão as gerações entregando sucessivamente umas às outras esse inestimável tesouro da ciência, fruto da meditação, do estudo, da observação e da experiência de muitos séculos; e cada geração tem o dever de entregar, melhorando e acrescentando, à geração que se lhe segue na sucessão dos tempos.

Do tesouro comum, do tesouro universal, cada povo toma a sua parte, conforme o posto de honra que soube conquistar no grandioso quadro da civilização; e assim como lhe assiste o direito de colher para si porção mais ou menos larga do bem, que é de todos e para todos, assim lhe cabe o honroso dever de tomar lugar, entre os que trabalham nessa obra maravilhosa, sem termo e sem limite, que se chama o progresso da humanidade.

 

INSERT 1. Conversa de Luísa e Leopoldina; lêem o jornal

Luísa - Olha, olha, vê só o que diz o jornal da Politécnica! O meu primo Basílio!...

Leopoldina - Oh, oh!, o primo Brasílio! (lê): Deve chegar por estes dias a Lisboa, vindo de Bordéus, o Sr. Basílio de Brito, bem conhecido da nossa sociedade. Sua Exª que, como é sabido, tinha partido para o Brasil, onde se diz reconstituira a sua fortuna com um honrado trabalho, anda viajando pela Europa desde o começo do ano passado. A sua volta à capital é um verdadeiro júbilo para os amigos de Sua Exª, que são numerosos.

Luísa - O primo Basílio...

Leopoldina - Com que então o primo Brasílio chega...

Luísa - É o que diz o Politécnica... Estou pasmada!

Leopoldina - Ah, uma coisa que te queria perguntar, antes que me esqueça. Com que guarneceste tu aquele teu vestido de xadrezinho azul?

Luísa - Guarneci-o de azul também, arranjei aí um tecidinho de cor...

Leopoldina - As anilinas artificais!.. Abençoado o cientista que nos deu as anilinas, rica! Foi uma obra maravilhosa, sem termo e sem limite, para o progresso da humanidade! E pensar que só foi possível graças ao aperfeiçoamento da instrução pública!