Wilson Daher - Triplo II: O blog do TriploV - Revista TriploV de Artes, Religiões e Ciências
 
 

Impressiona-me bastante a conduta de algumas pessoas que, talvez por conta se suas dificuldades em lidar com o óbvio (e o óbvio está sempre no interior de cada um de nós), buscam transformar em pó, quando não em ruínas, a história e o feito de outras, que superaram dificuldades e foram em frente. E, geralmente, não foram em frente de forma gratuita, mas sim porque batalharam pelas suas próprias conquistas, mirando-se muitas vezes no exemplo de quem, a duras penas, também buscou o seu lugar ao sol.

Não vemos isso apenas em consultório, muito pelo contrário, pois não é difícil entender que é muito difícil alguém procurar um psiquiatra ou psicólogo porque se reconheceu como destrutivo. Eles estão por aí, em nosso dia a dia, lancetando venenos que destilam de suas bocas viperinas, sempre na tentativa de fazer desmoronar pilares morais, éticos, artísticos, científicos, que foram erigidos durante uma vida inteira, muitas vezes em silêncio de quem trabalha e não quer também perturbar o labor de outro que desvenda seus caminhos. Que o batalhador autêntico é aquele que se rejubila com quem foi em frente e continua caminhando.

 

Wilson Daher

DESTRUTIVIDADE

 

Wilson Daher . Psiquiatra e membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura

 
 

Temos a impressão, quando não a certeza, de que a destrutividade tem tudo a ver com a inveja. Que é diferente, em tudo, da admiração e da tentativa de identificação com a pessoa admirada, como a criança que tem sobre o pai um olhar idealizado, fantasiando ser como ele “quando crescer”.

Não é o caso da inveja, pois o invejoso nem admira, nem quer se identificar com o outro, pois, não querendo admitir a consciência de sua incapacidade, muito menos de seu complexo de inferioridade, age de forma a não se importar em ser ou ter o que o outro é ou tem, mas fazendo de tudo para que o ser ou o ter do outro sejam rebaixados ao nível em que ele(o invejoso) se encontra. Em palavras mais simples: o  invejoso não precisa ter o que o outro tem, basta-lhe somente que o outro deixe de ter o objeto de sua inveja, o que é obtido com a força destrutiva de seu caráter.

Mas o que ele, invejoso, não percebe, é que esta destrutibilidade volta-se contra ele mesmo, solapando os alicerces de algumas capacidades que possui e não são colocadas em prática. Quem assistiu ao filme “Amadeu”, que conta a vida do compositor Mozart, se lembrará do personagem Antonio Salieri, músico da corte, também talentoso, mas possuído de uma inveja altamente destrutiva sobre a genialidade de Mozart, fazendo de tudo para que este jovem gênio acabasse caindo em desgraça. Só que, na tentativa de destruir Mozart, segundo o filme, deixou de reconhecer seu próprio talento e auto-destruiu-se, tornando-se hoje uma figura esquecida, em contraposição à imortalidade de Mozart.

Este artigo foi escrito para responder às indagações de um amigo, mas espero ter contribuído para que idéias e sentimentos de muitos sejam suscitados em busca de um pensar sobre nós mesmos, todos nós que somos feitos desta massa impura de virtudes e defeitos que nos mancham sem que o percebamos.

                                  

 
   
   
   
 
   
   
   
   
 
   
   
   
   
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