Impressiona-me bastante a
conduta de algumas pessoas que, talvez por conta se suas
dificuldades em lidar com o óbvio (e o óbvio está sempre no interior
de cada um de nós), buscam transformar em pó, quando não em ruínas,
a história e o feito de outras, que superaram dificuldades e foram
em frente. E, geralmente, não foram em frente de forma gratuita, mas
sim porque batalharam pelas suas próprias conquistas, mirando-se
muitas vezes no exemplo de quem, a duras penas, também buscou o seu
lugar ao sol.
Não vemos isso apenas em
consultório, muito pelo contrário, pois não é difícil entender que é
muito difícil alguém procurar um psiquiatra ou psicólogo porque se
reconheceu como destrutivo. Eles estão por aí, em nosso dia a dia,
lancetando venenos que destilam de suas bocas viperinas, sempre na
tentativa de fazer desmoronar pilares morais, éticos, artísticos,
científicos, que foram erigidos durante uma vida inteira, muitas
vezes em silêncio de quem trabalha e não quer também perturbar o
labor de outro que desvenda seus caminhos. Que o batalhador
autêntico é aquele que se rejubila com quem foi em frente e continua
caminhando. |
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Temos a impressão, quando não
a certeza, de que a destrutividade tem tudo a ver com a inveja. Que
é diferente, em tudo, da admiração e da tentativa de identificação
com a pessoa admirada, como a criança que tem sobre o pai um olhar
idealizado, fantasiando ser como ele “quando crescer”.
Não é o caso da inveja, pois o
invejoso nem admira, nem quer se identificar com o outro, pois, não
querendo admitir a consciência de sua incapacidade, muito menos de
seu complexo de inferioridade, age de forma a não se importar em ser
ou ter o que o outro é ou tem, mas fazendo de tudo para que o ser ou
o ter do outro sejam rebaixados ao nível em que ele(o invejoso) se
encontra. Em palavras mais simples: o invejoso não precisa ter o
que o outro tem, basta-lhe somente que o outro deixe de ter o objeto
de sua inveja, o que é obtido com a força destrutiva de seu caráter.
Mas o que ele, invejoso, não
percebe, é que esta destrutibilidade volta-se contra ele mesmo,
solapando os alicerces de algumas capacidades que possui e não são
colocadas em prática. Quem assistiu ao filme “Amadeu”, que conta a
vida do compositor Mozart, se lembrará do personagem Antonio Salieri,
músico da corte, também talentoso, mas possuído de uma inveja
altamente destrutiva sobre a genialidade de Mozart, fazendo de tudo
para que este jovem gênio acabasse caindo em desgraça. Só que, na
tentativa de destruir Mozart, segundo o filme, deixou de reconhecer
seu próprio talento e auto-destruiu-se, tornando-se hoje uma figura
esquecida, em contraposição à imortalidade de Mozart.
Este artigo foi escrito para
responder às indagações de um amigo, mas espero ter contribuído para
que idéias e sentimentos de muitos sejam suscitados em busca de um
pensar sobre nós mesmos, todos nós que somos feitos desta massa
impura de virtudes e defeitos que nos mancham sem que o percebamos.
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